Somente agora tive coragem de relatar meu encontro com Brigitte Bardot, a lenda das telas do cinema nas décadas de 50 e 60, ela, na época, com 29 anos de idade. Isso, 53 anos atrás. Não o fiz antes porque ninguém acreditaria na história inverossímil de um nordestino jovem de sotaque carregado e sem dinheiro no bolso.

Ao ser aprovado no vestibular, meus pais me presentearam com uma passagem para conhecer o Rio de Janeiro. Fui parar em Niterói na casa de parentes.

Disposto a encarar o Rio, li no Jornal do Brasil, que Brigitte Bardot, a musa platinada do cinema francês, estava desenfastiando da glória mundial num recanto do litoral fluminense chamado Búzios. Ela e o namorado Bob Zagury, um playboy e produtor marroquino radicado no Brasil. Vivíamos o final de fevereiro de 64.

Eu e toda a molecada de minha idade, havíamos fantasiado momentos profanos incríveis com a ex-esposa de Roger Vadim, atriz dos filmes E Deus Criou a Mulher, Quer Dançar Comigo, Amar é Minha Profissão e O Desprezo. Eis que a diva descansava, naquele momento, no estado da Guanabara onde eu me encontrava.

Perguntei aos parentes como chegar a Búzios. Eles puseram todo tipo de obstáculo, inclusive alegando ser a dita praia uma vila de pescadores muito distante de Niterói. E mais: por que trocar as atrações turísticas e a beleza natural do Rio de Janeiro por uma praia remota e pouco habitada?

Tentei justificar dizendo que Copacabana, o Corcovado e o Pão de Açúcar ainda estariam no mesmo local, quando eu voltasse à cidade em outra ocasião; ao passo que Bardot, talvez não retornasse jamais ao Brasil. Não os convenci porque, irredutíveis, eles desqualificaram o poder de uma paixão platônica adolescente.

Os jornais informavam que a star e o seu namorado se escondiam da imprensa na Praia de Manguinhos, na casa do represente das Nações Unidas no Brasil e amigo de Bob. Enfiei numa sacola um calção de banho, um par de chinelos e uma escova de dentes, e segui para a estação rodoviária tentar alcançar a Região dos Lagos.

Cheguei ao tal povoado num final de tarde e me instalei numa pousada rústica para pernoitar. Eu estava determinada a conhecer Brigitte Bardot. Agora, tudo dependeria de sorte. Um nativo deu-me as coordenadas que faltavam mostrando uma passagem obrigatória da artista para a casa que lhe hospedava. Ali fiquei de tocaia por um dia inteiro.

Final da manhã do segundo dia, ela escultural num biquíni discreto, cabelos soltos e despenteados e o rosto sem maquiagem, surgiu andando na orla chutando areia. Ao lado dela uma amiga. Vinham na minha direção. Brigitte parou e deitou para se bronzear, enquanto a amiga retornou à casa, talvez, para buscar algo.

Na praia quase deserta, as poucas pessoas em trânsito não identificavam na loura ali esparramada, a badalada atriz internacional. Esperei alguns instantes e, quando não vi ninguém por perto, me aproximei da beldade e falei:

Bonjour, Mademoiselle Brigitte, vous êtes belle!

Ela sobressaltou-se, mas, refeita do susto, sorriu. Já sentada na areia me estirou a mão para que eu a ajudasse a levantar. Mão estendida, me aproximei da musa, mas, uma voz estranha ao contexto se interpôs entre nós, dizendo:

– Narcelio, acorde! É hora de sua caminhada!

Desperto, dominaram-me dois sentimentos: frustração, porque nunca saberia o resultado daquele promissor aperto de mãos; alívio, porque BB não me veria com cara de tacho, caso resolvesse entabular qualquer conversa comigo… em francês.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

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