MEU CANTEIRO DE NOVE HORAS –

Em uma pequena reforma na minha casa  na praia de Cotovelo, fiz questão que bem na frente junto à entrada principal ficasse um canteiro com flores alegres, pois gosto de olhar o mar, a lua, o nascer do sol  junto com a “música” tocada pelo vento. Às ondas do mar me trazem paz e me aproximam de Deus e aquele canteiro completaria o meu cenário, o cenário da vida.

Escolhi às nove horas, um tipo de flores coloridas, rasteiras e silvestres, mas que devido a sua diversidade de cores, quando misturadas torna um visual muito bonito. Meu canteiro contemplo todos os dias, vejo o seu crescimento diariamente e observo que elas se entrelaçam como se dominassem aquele território e não permitem que por lá surjam outro tipo de vegetação, como uma família muito unida. As flores abrem diariamente por volta das nove horas e começam a fechar lá pelas dezesseis.

Estava eu olhando as flores, o mar e ouvindo o som da musica das ondas regida pela batuta dos ventos, sentido aquela paz profunda e procurando o sentido da vida,  me vem à lembrança de pessoas que passavam e me cumprimentavam com alegria, como se a vida fosse infinita, e aqueles momentos eternos. Naquele instante passou por minha lembrança a figura de vários amigos que não passarão mais para papear, para ouvir músicas, para tomar umas e outras ou simplesmente para conversar o cotidiano, as coisas da vida. Foram chamados para outra dimensão. Meus pais, minha irmã Niris, meu irmão José Maria, Raimundo Jovino, Carlos Duramesq, amigo, irmão, companheiro do DER, Nabor Maia amigo e amigo do meu pai, para mim um conselheiro. Marli Soares esposa do amigo Valdecir Soares que por lá caminhava, Marlene Medeiros esposa do querido amigo José Augusto Bezerra, “Seu Zé”, meu amigo José Rocha, “Rochinha” sempre alegre e brincalhão, Genário Fonseca nosso eterno conselheiro, meu vizinho Artur Nunes que faleceu aqui na praia véspera de carnaval, Marcio Marinho, amigo, irmão, com seu violão levava alegria onde estivesse, Airton Guerreiro que quando chegava não dispensava a sua branquinha, Carlos Gileno, eterno brincalhão, Dona Cidinha Aranha, Sebastião Medeiros, Adjunto Dias, Zé dos Santos, Gustavo Mariz, Segudinho, e outros que a idade me faz não recordar no momento.

Interessante, dizem que os mortos vivem, não sei, escreveu Victor Hugo. “Os mortos são invisíveis, e não uns ausentes.”. Verdade, essas e outras pessoas permanecem vivas na minha lembrança.

“Caminhando e cantando e seguindo a canção somos todos iguais braços dados ou não.” Sim, somos todos iguais, e o fim da nossa existência neste mundo é inevitável. Sei que a vida é uma canção, um caminho. Ainda tenho o meu, não sei se curto ou longo, mas, procurarei segui-lo com dignidade até o fim. Procurarei cantar ou ouvir a canção da vida seja bela, ou seja triste, com erros ou com acertos, mas tenho que caminhar, tenho que cantar.

Está perto das 8,30 horas, as minhas nove horas começam a abrir, a desabrochar, mostrando todo seu esplendor, toda sua beleza, vão alegrar o meu canteiro mais uma vez e mostra que a vida é assim, alegria. Um livro, cada dia uma nova pagina, uma pagina em branco, e que a cada um de nós cabe escrevê-la com amor e sabedoria.

Está na hora de voltar ao cotidiano, Alzira me chama. ”Todo dia ela faz tudo sempre igual me sacode ás seis horas da manhã.” Voltarei ao meu canteiro amanhã por volta das seis horas, voltarei a contemplar as minhas flores, sinto-me como o Pequeno Príncipe, terei que dar bom dia a todas.

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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