MARTE E VÊNUS! –

Não quero generalizar, mas, via de regra, existe uma diferença abissal entre a forma de criação de meninos e meninas. As causas podem ser evolucionais, emocionais ou meramente sociais, não importa. O fato é que criamos nossos descendentes de maneiras diferentes e depois cobramos igualdade.

Nós os ensinamos a pensar e agir de acordo com o gênero, da mesma forma que nossos pais nos ensinaram, e depois, pronta a personalidade, fingimos ignorância e os forçamos a agir como iguais. Orientamos para que tenham perspectivas quase opostas, conduzimos seus planos, seus sonhos e desejos em uma direção, mas esperamos que sigam pelo caminho desconhecido, fechando os olhos para a falsa trilha de migalhas que deixamos para trás, e que não os conduzirá a lugar nenhum.

As meninas devem ser prendadas (nos tempos de hoje?), saber cuidar da casa e educar os filhos, para isso lhes damos bonecas e jogos de chá. Ensinamos-lhes a esperar pelo príncipe encantado, montado em um cavalo branco, cuja armadura brilhante precisa de polimento constante e, em troca, ele irá amá-la incondicionalmente, entenderá seus ciclos hormonais e sua companhia será suficiente para que ela seja feliz. A elas, nós iludimos com contos de fadas, enchemos seus olhos de fogos de artifícios e seus ouvidos de sinos, que badalam sem cessar. Ensinamos a rivalidade e a inveja. Criamos uma mulher insensata, tola, lacrimosa e dependente.

Aos meninos, mostramos a importância da força, do trabalho árduo e da acuidade com a amizade e lealdade. Mostramos formas de calar as emoções e esconder os sentimentos, pois mostrá-los é ato de “fraqueza”, tolerado apenas por parte das mulheres. Apresentamos-lhes as guerras, a violência e a fome de poder. Entregamos uma armadura esperando que ele nunca a dispa. Criamos um homem forte, emocionalmente distante, corajoso, ao mesmo tempo em que teme se mostrar como realmente é, ou gostaria de ser.

 Após tantas lições inúteis, as mulheres esperam um homem que não existe e procuram adicionar “qualidades utópicas” a seus parceiros. Apesar de não conseguirem e de se frustrarem por isso, criam suas filhas de modo a que tenham as mesmas esperanças, criando um ciclo infinito. Após tanta pressão para atingir o padrão de masculinidade meramente tolerável, os homens têm medo de “baixar a guarda”, e, muitas vezes, praticam atos que não gostariam, apenas para garantir o seu “status”.

Cada geração se acha mais sábia que a anterior, mas costumamos cometer os mesmos deslizes. Precisamos admitir nossa ignorância, deixar de lado atitudes negativas, perder o medo de ousar. Sentimentos são coisas sérias e pedem que assim os consideremos. Devemos tratar os outros com o mesmo respeito que gostaríamos de receber. Nada de jogos, de ideias vãs. Nada de tolices. Marte e Vênus são planetas diferentes, mas têm muito em comum, e, portanto, devem se aceitar como são e compreenderem-se um ao outro.

 

Ana Luiza Rabelo – Advogada ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *