Maria Aparecida de Souza ou Maria de Nezinho, assim ela é conhecida lá pras bandas de Laranjeiras dos Cosme, lugarejo pertencente ao município de São José do Mipibú.

Maria, mulher bonita, letrada, pedagoga e advogada, solteira por convicção, com pavor a marido e já nos quarenta, lembra muito a Fafá de Belém até na gargalhada. Mas o que tem de bonita e alegre tem também de braba, os homens da região têm por ela todo respeito. Certo dia, perguntei a Maria porque ela não queria um casamento. De pronto me respondeu.

– Eu já tenho um cachorro que bagunça minha casa, um papagaio que fala o que não deve um gato que sai todo dia e volta à hora que quer. Me responda! Pra que eu quero um marido?

Quando fui chegando, Maria me viu, deu boa gargalhada e me abraçando foi dizendo.

– Amor, você por aqui. Que coisa boa. Vamos entrando.

Dei-lhe um grande abraço, um beijo na face e aproveitei a oportunidade para sentir o perfume dos seus longos cabelos que me envolveram até os ombros.

Sentado no alpendre da casa grande depois de tomar café, procurei puxar conversa.

– Maria me conta as novidades, como estão as coisas?

– Olha Guga, as coisas estão muito difíceis, este pais é um país ingrato. Um país que não tem futuro para os jovens, nem amparo para os velhos. Me diga uma coisa, você votou no Lula?

– Votei Maria, votei na primeira eleição porque pensei que seu discurso fosse outro. Mas vi que me enganei, não sabia que o PT fazia parte do crime organizado.

 – Olha Guga, como é que um sujeito que passou toda a sua vida na oposição, com um discurso totalmente diferente, tem a cara de pau para falar as mentiras descaradamente, na frente de um juiz? Que é isto? Essa história que ele pode mandar no Brasil, um cidadão que nem nos respeita, nem se dá ao respeito, esculhamba com todos, pensa que é um deus? Agente vai acreditar em que? O brasileiro está perdendo a auto-estima. O povo está tão desacreditado com político, com justiça, com polícia, com tudo. Um dia aqui, o prefeito Chico de Honório tava fazendo um discurso na inauguração do Posto de Saúde, lá pras tantas saiu com esta.

– Povo da minha terra, durante toda a minha vida pública, coloquei sempre a honestidade acima de qualquer interesse político! Vocês podem ter certeza que neste bolso – e batendo no bolso do paletó – nunca entrou dinheiro do povo.

Compadre Antonio de Maria Rosa não se conteve e gritou.

– Paletó novo heim, prefeito. Foi uma “risadeira” geral.

O papo ia indo sobre as mazelas dos políticos quando chega um cidadão e fala para Maria.

– Dona Maria, vosmicê pode tirar a queixa contra Manuelzinho? Ele é um rapaz tão bom!

– Posso não seu João, isto é pra ele aprender a respeitar mulher sem macho.

– Espera aí Maria, você esta processando o Manuelzinho? Por quê?

– Estou sim Guga, estou processando por assédio sexual.

– Assédio sexual? O que foi que o Manuelzinho fez com você?

– Teve a petulância de passar por mim e dizer – Dona Maria, que cabelos cheirosos.

– Só isto Maria, só por isto? E isto é assédio sexual

– Você está esquecendo que ele é anão?

Olhando nos seus belos olhos, percebi que ela estava brava. Aproveitei para as despedidas.

– Amiga, a conversa está boa, mas ainda vou a Monte Alegre lá na fazenda de João Lucas, um beijo amor. A sua sorte e o meu azar é minha mulher viver pegando no meu pé.

– Tchau querido, volta sempre ta? (Dando uma sonora gargalhada)

Guga Coelho LealEngenheiro e escritor

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