JOCA, O GOLEIRO –
 
“A bola vai para Saquinho, mata no peito, entrega para Jorginho, este lança perigosamente para Wallace, passou para Gilvan, vai marcar, atirou… Defendeu espetacularmente Harry Carrey!!!” Essa era a narração do nosso locutor no tempo de criança.
Os craques acima citados eram nossos heróis do futebol na época e incorporávamos seus nomes. Harry Carey era goleiro da seleção paraibana e do Treze de Campina Grande, um grande goleiro que João Rodrigues Barbosa Filho, nosso querido Joca se intitulava. A narração era feita durante as nossas batidas de “zorra” que eram jogadas no meio da rua e o goleiro ficava em cima da calçada para defender os chutes que dávamos em direção ao gol. Se a bola entrasse (a trave era o muro) o gol era dos atacantes, se fosse chutada para fora o gol era do goleiro.
 
Joca cresceu, ai passou-se a chamar-se mesmo de Joca, o grande goleiro de futebol de salão da seleção do Rio Grande do Norte e do ABC F.C. Já não precisava mais de pseudônimos, pois a sua classe e categoria eram insuperáveis. Digo sem medo de errar, ele e Arlindo Brito para mim foram os melhores goleiros de futsal, que tivemos.
 
Fomos meninos juntos, grandes amigos desde criança. Filho de João Rodrigues Barbosa e Creuza Barbosa, era o terceiro filho de uma prole de quatro, Manoel, Eliane e Eduardo. Quase que da minha idade, um ano mais novo, vizinhos, brincávamos todos os dias. Era pelada nas ruas (não tinha calçamento), jogo de botões, bandeirinha, tica, guerra de baladeira e muitas outras, daí uma grande amizade e um fã que ia vê-lo jogar no Ginásio Silvio Pedroza ou no Djalma Maranhão.
 
Jogou com craques e amigos como, Eunélio, Dwight, Laminhas, Barzinho, Maurício, Bel, Dodoca, Salvador Lamas, Domício Damázio, Bira, Artuzinho, Elacir, Cezimar, Odeman Miranda, Peninha Lamartine, Chico Bola Preta, Léucio, e muitos outros.
 
Formou-se em medicina e especializou-se em pediatria. Era também médico legista do ITEP, mas sua grande paixão depois de sua família era carros 4×4. Com ele, Amador Lamas, Franklin e Tasso Nunes, Clovis Veloso, Maurício Maia, fomos os iniciadores dos passeios de bugres pelo litoral do Rio Grande do Norte, até idealizamos a primeira balsa, que nos transportou da praia de Santa Rita para a praia de Barra do Rio.
 
Doente de enfermidade grave, não se entregou, esqueceu a doença, e viveu até o último momento a sua maneira, escolheu não a verdade dos seus colegas médicos, mas a sua verdade, que para muitos não seria a correta, mas para ele sim, talvez se lembrando do filósofo Aristóteles que disse: “Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz e sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja”.
 
Assim era Joca, assim viveu Joca.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor
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Uma resposta

  1. Grande Joca, goleiraço. Quando veio morar em Brasília, jogávamos uma ótima pelada aos sábados no DER-DF. Era companheiro pra todas as horas e circunstâncias. Deixou muitos amigos.

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