IMPRESSÃO DE VIDA –

Vejo com enorme tristeza os verdadeiros escombros em que se transformaram os prédios que sediaram os jornais – e rádios – que transformaram minha vida, que me iniciaram na paixão pela comunicação. Estão ali nos mesmos lugares, ou abandonados ou moribundos recebendo os penitentes que restaram.

Num deles, a pompa era tanta, que havia um belo teatro para os programas de rádio ao vivo, que virou cinema depois. No mesmo prédio, pulsava a redação de dois jornais e o parque gráfico que transformava fatos apurados em relatos impressos. Sim, a notícia e a arte faziam uma dobradinha infernal para sacudir nossas mentes provincianas e abrir nossas cabeças para o mundo.

Sempre que passo diante dos escombros quase ouço as vozes que davam vida àquilo tudo, os sons das máquinas de escrever, das rotativas, dos caminhões entrando e saindo, os sons radiofônicos e das aventuras guardadas no celuloide dos filmes. E penso que dificilmente algo surgirá ali se não começar pela demolição que apagará de vez qualquer memória que ainda resta nas paredes carcomidas pelo tempo.

É claro que morro de inveja dos americanos, cuja nova onda é transformar as sedes dos seus lendários jornais em prédios residenciais de alto luxo.

Sim, as mudanças foram devastadoras e também dizimaram seus gigantes de papel, do mesmo jeito que ocorreu em todos os lugares. É verdade que quase tudo foi parar nas telas do mundo digital, mas ainda será possível conviver com os prédios imponentes que abrigaram verdadeiros reinos da informação e representam uma época indispensável e agora lendária da história humana.

E, aos mais abonados, será dada a possibilidade de viver dentro deles. Uns, terão apartamentos à venda. Outros, apenas para locação.

Em matéria publicada no primeiro dia de 2020, The Wall Street Journal aponta que essa tendência promove “a reinvenção de áreas urbanas”, combinada com “a valorização das residências em áreas centrais”. E ainda resta o ganho extra de se manter a paisagem viva de um tempo glorioso da mídia.

 

 

Heraldo Palmeira – Produtor Cultural

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