IGREJAS DO SERTÃO E MESTRE PATATIVA DE ASSARÉ –

Seja capela seja igreja, vazias, a reza continua, mas em casa, com o vigário ou o pastor, fique em sintonia.

Sempre é bom lembrar de versos, deixados para a santa sé, nas rimas do ser sofrido, andante dos caminhos secos, a pé, andrajos, letras cantadas na soleira do alpendre, pelo mestre Patativa do Assaré.

CANTE LÁ, QUE EU CANTO CÁ

De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão

Tu pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crides constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus

Tu és nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu.
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu.

Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,

Cante lá, que eu canto cá.
Não é Deus quem nos castiga
Nem é a seca que obriga
Sofrermos dura sentença
Não somos nordestinados
Nós somos injustiçados
Tratados com indiferença

As Escritura não diz,
Mas diz o coração meu:
Deus, o maió dos juiz,
No dia que resorveu
A fazê o sabiá
Do mió materiá
Que havia inriba do chão,
O Diabo, munto inxerido,
Lá num cantinho, escondido,
Também fez o gavião.

Patativa de Assaré (Antônio Gonçalves da Silva, Cariri, Ceará, 1909/2002)

 

 

Luiz Serra – Professor e escritor
 As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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