GESTOS OBSCENOS: PEQUENOS E IMPORTANTES DETALHES –

O assessor da Presidência da República, Felipe Martins, causou verdadeiro alarido entre políticos, imprensa, comunistas, nazistas, religiosos e a população de uma maneira geral, ao fazer, repetidamente, um gesto. Algumas considerações.

O sinal de OK é um “O” feito com o indicador e o polegar, mas com a palma da mão voltada para o interlocutor. O mesmo gesto, com a palma da mão invertida, isto é, virada para a pessoa que está gesticulando, é uma obscenidade inominável, muito usada no sudeste e sul do país e cujo equivalente no nordeste é o dedão maior de todos estirado, com os demais encolhidos com a palma da mão voltada para quem está dando o dedo.

No caso em tela a palma da mão estava voltada para o próprio autor do gesto, Felipe Martins, portanto, um ato obsceno, com significado de mandar o interlocutor ir tomar no anel traseiro.

 Essa foi a impressão imediata de muitos espectadores, inclusive a minha. Mas, logo surgiram outras ilações: ele estava mostrando um “W” e um “P” o que significa White Power, algo racista, confrontando brancos, negros, judeus, católicos, islamistas, budistas, ricos, pobres… uma confusão dos diabos.

O assessor alegou que simplesmente ajeitava a lapela do paletó com a mão direita!

O caso merece estudos mais aprofundados. Enquanto isso analisemos outros sinais para relaxar um pouco e esquecer essa pandemia pavorosa.

O gesto de colocar o polegar para cima com a mão fechada, significa que está tudo bem, tudo tranquilo e, no Coliseu Romano, que o gladiador deveria ser poupado. Entretanto se você é um mergulhador e está debaixo d’água, significa que a coisa não vai bem e há necessidade de subir, imediatamente, para a superfície. Ao contrário, o polegar para baixo, quer dizer que pode continuar descendo, pois está tudo muito bem.

O punho cerrado de uma mão, indo de encontro à outra mão aberta que segura o antebraço significa uma solene banana que pode ser feita com muitas variáveis.

No mundo todo as pessoas usam gestos: a maneira de mexer as mãos ou balançar a cabeça tem particular significado, e esses movimentos são usados para dar suporte ao que se está falando, ou mesmo para substituir as palavras. Pessoas balançam a cabeça afirmativa ou negativamente; acenam com as mãos de diversas maneiras; colocam os polegares para cima ou para baixo. Esses sinais têm o mesmo significado em qualquer lugar? Como eles adquirem esses significados?

Por outro lado, sinais são usados quando se quer dizer a alguém “venha aqui”: o sinal para chamar. Algumas pessoas chamam com um dedo ou dois, mas a maneira mais comum de chamar é com os quatro dedos abrindo e fechando juntos.  Alguns fazem isso com a palma da mão para a frente, e outros, pelo contrário, com a palma da mão para trás. Qual das posições você usa, depende do local onde você está. O inglês e o francês sempre usam a palma da mão para a frente para chamar. Isso parece com o adeus italiano e pode trazer problemas.

Certa vez uma jovem inglesa fazia turismo na Itália, de trem. Uma noite, chegando na plataforma de uma estação com várias malas, ela chamou alguns jovens italianos que estavam na plataforma oposta, esperando que eles pudessem ver a sua dificuldade e ajudassem-na com as malas. Mas os italianos entenderam tudo errado: para eles, ela estava dando adeus e eles ficaram supondo que ela estava esperando o trem: então eles sorriram e repetiram o mesmo gesto dela, desejando-lhe uma boa viagem.

Muitas pessoas pensam que há apenas uma maneira de dizer SIM e uma de dizer NÃO. Está próximo da verdade, mas não é verdade total: há variações.

Pessoas que visitam Sri Lanka têm dito algumas vezes que os nativos trocaram o gesto de assentir, pela oscilação da cabeça. Quando concordam, eles oscilam a cabeça de um lado para o outro em vez de verticalmente. Viajantes retornam dizendo (erradamente) que em Sri Lanka quando alguém quer dizer SIM, balança a cabeça horizontalmente, mas um estudo mais acurado revelou que isso ocorre apenas no caso onde um consentimento é dado. Uma pergunta factual é respondida com o familiar gesto afirmativo. Portanto, o gesto depende do tipo de SIM envolvido.

Em certos países, o específico sinal de SIM pode ter um movimento de cabeça diferente: Sim, estou ouvindo. Sim, muito interessante. Sim, entendi o que você quer dizer. Sim, eu quero, e Sim, tudo certo.

Apesar das variações, assentir com a cabeça é de longe o sinal mais comum de SIM. Estudos com pessoas que nascem surdas e cegas, sugerem que o gesto afirmativo com a cabeça é inato na nossa espécie. Ele pode ter-se desenvolvido na ação de sucção da criança no peito da mãe.

Balançar a cabeça significando NÃO é tão comum quanto balançar significando SIM: é virtualmente universal. Os seus significados podem incluir desaprovação e perplexidade, bem como os mais óbvios NÃOs: Não posso. Não quero. Discordo. Não sei. É quase certa a sua origem também no comportamento instintivo da criança que suga – na ação da criança que rejeita o peito, a mamadeira ou a colherada de comida. Quando os pais tentam persuadir a criança a comer, ela recusa muito naturalmente afastando a cabeça primeiro para um lado e depois para o outro, distanciando a cabeça do objeto indesejado. Isso desenvolve no adulto o balançar da cabeça.

Nós podemos ver na origem de algumas palavras o gesto afirmativo com a cabeça. A língua búlgara contém muitas frases comuns com “orelhas”: frase como “eu lhe dou minha orelha” e “eu sou todo orelhas”. O balançar de cabeça pode ser uma maneira modificada de inclinar a orelha em direção ao interlocutor para demonstrar que você está prestando atenção. A maneira pela qual você afirma o seu interesse torna-se, então, a forma mais geral de indicar o SIM. Mas frases com “orelhas” como essas são comuns em muitos idiomas, então porque todos nós não adotamos a forma afirmativa balançando a cabeça horizontalmente? Ninguém realmente sabe. Ainda é um mistério. Mas de uma coisa podemos estar certos: definitivamente vale aprender os gestos de outros povos quando você aprende a sua língua.

Algumas pesquisas em artigo de Donald Watson, cujo título é “THUMBS UP”.

 

 

 

 

 

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor, [email protected]
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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