FALEI DORMINDO –

Existe uma crença, não sei se verdadeira ou não, que, se questionarmos uma pessoa enquanto estiver adormecida, todas as respostas dadas serão verdadeiras. Interessante o fato de ter que aguardar a pessoa dormir para ouvir a verdade, não é?

Nós nos esforçamos tanto para viver bem que esquecemos o valor da sinceridade no meio de tudo. A mentira é usada como solução para muitos problemas, e o mentiroso se acostuma a criar e a crer nas suas “versões” da história com tanta facilidade e impunidade que perde o hábito de falar a verdade. Começa-se com pequenas “invenções” e “brincadeiras” e logo nos tornamos escravos de fantasias. Sem nem perceber, a mentira toma conta do dia-a-dia e parece ser muito difícil desfazê-la. Se não pelo constrangimento em si (de se entregar), pela imensa vergonha de ter mentido quando existiam tantas outras saídas que parece até burrice ter apelado para artifício tão vil.

A mentira seduz. Além da óbvia sensação de fazer algo errado e perigoso (e potencialmente constrangedor), o mentiroso molda sua realidade e torce os acontecimentos de acordo com seu próprio desejo. Tudo pode ficar mais bonito e mais brilhante com apenas alguns “enfeites”. As aventuras são mais perigosas e atitudes tolas e banais podem transformar-se em atos de bravura e coragem. Uma pessoa “normal” vira um herói se souber contar a história com um pouco de “lorota” e fantasia.

A mentira também é estimulada e propagada sob o manto da “inocência” e “amizade”. Ninguém quer dizer para um amigo que sua roupa não está legal, que ele (elas, principalmente) não está fora do peso e outras coisinhas assim… Mas ninguém quer sair “feio”, como se o conceito de beleza fosse algo palpável.

Mentimos o tempo inteiro, sob as mais diversas desculpas… Mas imaginemos um mundo onde mentir não seja a regra, e falar dormindo não represente vergonha ou constrangimento. É nesse mundo que eu quero existir. Estamos recrutando soldados. Pessoas comuns, que não querem mais saber de mentiras. Vamos mudar nossa realidade apenas quando pudermos mudar a nós mesmos.

 

Ana Luiza Rabelo – Advogada ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *