Tempo dos gestos espontâneos da mulheres na madrugada da passeata, oferecendo um copo de leite ao líder cansado e caminhante. Tempo do povo romeiro que acendia velas votivas em louvor da vitória do seu candidato. Hoje nem vota e ainda mais roga praga. O que aconteceu com o povo ou com a cidade? Mudaram eles ou mudamos nós Nessa política até parece que Macaíba está sob o toque de silêncio. No interior, corre a notícia que não haverá eleição este ano. Os comícios de bairro na cidade até agora não aconteceram um sequer para acordar galinha. Diria que a política perdeu o charme, o glamour, o encanto, a confiabilidade, o rumo e o prumo. Sim, porque política é contágio, é cumplicidade, é atitude e participação, enfim, tudo aquilo que vibra, que vive, que estimula uma sociedade inteira a partilhar do processo democrático do voto do destino de um povo.
Evoco esses fatos porque eles existem. É só comparar, refletir sobre o passado recente e o presente. As ruas estão desertas e as mensagens dos candidatos não mais atingem os ouvidos do povo.
Eleger candidato de fora, aí o município perde a identidade, o sentimento nativista, o amor telúrico. Passar o comando de uma prefeitura, de um poder público de um cunhado para a sua cunhada, como quem troca um carro, uma moto ou uma bicicleta, é querer esconder papel safado, oculto, tudo por debaixo do pano. Por isso, o povo perdeu o canto, o encanto e o gosto de entoar nas ruas que é proibido cochilar.
Saindo do papo político, gostaria de evocar aqui e agora um amigo que se foi há algum tempo. Partilhamos das fases da adolescência e da maturidade. Filho único de Emídio Pereira Filho e Maria Nazaré Madruga Pereira, Marcos Vinicius Madruga Pereira ainda se mantém vivo na minha memória como o garotão da motocicleta, o paquerador, o dançarino do Pax Clube, o amigo político fiel e dedicado, o caminhoneiro de longo curso, apesar de tudo e dos reveses que enfrentou na vida. Vinicius, o pescador, o caçador que ficava de “mutuca”, como gostava de dizer, para atingir a presa. Vinicius, conquistador e galante, louco por “pivetes”, como tratava as namoradinhas, que se refletiam nos seus olhos azuis, herdados de D. Nazaré. Relembro-o com sentimento de saudade. Foi um homem que teve tudo que quis, mas sofreu muitas perseguições e a todas sobreviveu. Valeu a pena revivê-lo com ternura e amizade.
Valério Mesquita – Escritor, Membro da Academia Macaibense de Letras, Academia Norte-Riograndense de letras e do Conselho Estadual de Cultura e do IHGRN– [email protected]