“Há pessoas que não levam em conta a realidade. Mas, em compensação, a realidade, também, não as levam em conta”. Esta máxima é atribuída a Karl Marx, grande pensador econômico e expressão doutrinária do socialismo, e nos provoca uma profunda reflexão sobre a realidade que buscamos, através dos nossos gestos e atos cotidianos, para a positividade de nossas vidas.

Em nossa verdade mais íntima, o que buscamos realmente? A luta pelos nossos sonhos e ideais, pelo nosso aprimoramento pessoal e crescimento profissional, assumindo os desafios e os obstáculos que a vida nos impõe; ou a simples entrega ao descaso e ao desvanecimento pessoal; a fácil justificativa para os fracassos sofridos e as frustrações vividas, atribuindo, quase sempre, o sentido da culpa a alguém? Eis o dilema: o caminho da aceitação da verdade da vida, em toda a sua complexidade e extensão; ou do obscurantismo pessoal, sempre à margem de tudo, permitindo-nos, sequer, ser reconhecidos pela própria vida.

O grande desígnio da existência humana é o da escolha do tipo de vida que queremos para nós. A multiplicidade social do mundo moderno e os valores emergentes dela decorrentes, nos impõe modelos e padrões estigmatizados de reconhecimento social. Mas vencer é bem mais que a conquista desses modelos. É a preservação da nossa identidade ante a pluralidade dos papéis impostos a cada um de nós, sempre buscando, em cada gesto cotidiano, quer no trabalho, quer na família, quer na sociedade, a superação da nossa capacidade de ser e existir. A vitória é mais do que o simples reconhecimento social, é a realização pessoal pelo cumprimento das tarefas que nos coube e, mais que a preocupação demasiada com o todo, devemos nos esmerar em ser a célula, a origem de tudo. Dela nasce a essência de tudo e o sentido da existência.

Assim devemos nos comportar, também, profissionalmente. As funções e atribuições que nos couber realizar, mesmo às mais humildes, devem ser o nosso esteio de realização, o prazer de nos sentirmos vitoriosos pela satisfação do dever cumprido. Esse é o grande salário a considerar. Bem mais que o reconhecimento dos outros, é a certeza que fizemos a nossa parte. Sintamo-nos grande no que fazemos. Trabalhemos nos limites da grandeza da criação e da singeleza da perfeição. O resultado será nossa própria capacidade externada na tarefa feita. E ela será, com certeza, vista e reconhecida.

Enganam-se os que pensam ao contrário, quem aposta no pessimismo e no descrédito pessoal. Olhem ao redor, na intimidade do nosso ambiente de trabalho e vocês, sem muito esforço, identificarão àqueles que fazem o trabalho com prazer e são felizes por isso. E nos ambientes familiares e sociais, o sentido também não é diferente. As pessoas mais felizes, nem sempre são as mais ricas ou as mais realizadas socialmente. Nós nos habituamos a pensar assim, por imposição dos modelos sociais a que nos submetemos, sem qualquer resistência. As pessoas mais felizes serão, sempre, aquelas que se descobrem felizes em tudo o que fazem e vivem, sem simbolismos ou modelos. Viver e viver com plenitude, ser grande nas pequenas coisas, nos pequenos gestos. Talvez, essa seja a verdadeira essência da felicidade.

Resta-nos, neste caso, uma honesta reflexão sobre qual lado nós estamos. É preciso revivermos os sonhos, retomarmos os ideais e acreditarmos na nossa capacidade de realizar a parte que nos coube na história de nossas vidas. Sim, a história de nossas vidas é a prova marcante do que fomos capazes de fazer e realizar. E de sonhar. Desconhecê-la, agora, desculpando-nos nas muitas decepções e frustrações vividas (e sabemos tantas), seria negarmos o altruísmo de revisarmos os nossos passos, acertados ou não e, sem culpas e medos, reconhecermos que ainda é tempo de mudarmos e de retomarmos tudo o que nos faria verdadeiramente felizes, e que, um dia, por não termos olhos para ver, deixamos para trás, na distância de nós mesmos.

Este é o nosso convite! Este é o desafio que ousamos propor a cada um. Somos realmente capazes de realizações mais altruístas ou, simplesmente, aceitamos a nossa incompetência em mudarmos a realidade que nos entristece e incomoda, negando-nos a transferir para as nossas vidas, a capacidade de reconstrução e superação inata a todo ser humano e, assim, vivermos e convivermos com mais humanidade e harmonia. É preciso olharmos para a frente e buscarmos novas possibilidades para nós e para a vida que escolhemos para nós. É preciso acabarmos com o pessimismo exacerbado e buscarmos o futuro que existe na dimensão dos nossos próprios horizontes. Caminhar olhando para trás, descrentes de tudo e de todos, é acreditarmos no pessimismo, é aceitarmos o destino de caranguejos. Ou será que de tanto olharmos para trás, sempre nos justificando e buscando culpas e culpados, não nos tornamos caranguejos?

A vida: é preciso redescobri-la, em cada um de nós, em nossos sonhos, em nossas utopias, apesar das duras ameaças de um cotidiano desolador. O futuro há de ser preservado em cada um de nós, como um sonho a ser realizado (ou simplesmente sonhado), na eternidade de cada um de nós. As dimensões de futuro não são apenas os exemplos desoladores que acontecem conosco. São os próprios testemunhos da efemeridade da vida. O que importa são os exemplos que ficam, e que nos trazem razões para viver e acreditar, sempre permeando às emoções de cada um de nós, permitindo-nos a possibilidade de almejarmos o futuro. Um futuro que sempre esteve a nossa espera, bastando, apenas, acreditarmos que o horizonte distante é uma mera simbologia de tudo o que podemos sonhar, ousar e realizar.

 

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.
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