ESCRITOS EM JORNAIS –

A ‘Cena Urbana’ do jornalista Vicente Serejo, no seu “Diário da Quarentena – XI”, que acompanho diariamente no jornal Tribuna do Norte, me fez pensar em como deveria estar tedioso o nobre escritor, talvez pela contenção de sua rotineira estadia entre os seus livros. Certamente não lhe bastou a breve ‘fugida’ ao seu mundo particular das prateleiras de autores, que ‘descansam’ sob a vigia, quase atenta, do seu leal gato sequioso de afagos e brincadeiras.

Pois bem.

Diz ele, referindo-se aos escritos em jornais, que após lidos são esquecidos pelos cantos, “sem merecer o céu nem o inferno”. E ainda: “Um humilde e inútil espetáculo que ninguém nunca jamais vai aplaudir”.

Nem por isso, confessa, é feliz com seu ofício “de contar pequenas histórias renegadas pela literatura e imprestáveis para a consagração”.

Permita-me ser mais ameno, caro Vicente, e em parte, obter um sorriso por mais breve que seja, ao dizer que recorto e guardo, quase como um troféu, as belas crônicas que me faz acreditar que, ainda no resumido espaço que se permite ao escritor/jornalista, encontro a satisfação da leitura que agrada ao meu espírito e estilo.

Quanto aos jornais – quanta falta fazem – acredito que houve uma pressa em fechar as gavetas, ameaçados pelas mídias digitais.

Na vida tudo se reinventa. Faltou entender que um jornal não se faz só de notícias. Ou não aprendemos a ler inúmeros literatos em suas folhas?

Como não lembrar, citando apenas esses, que Luis Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Machado de Assis e Nelson Rodrigues chegaram a até nós pelos escritos nas páginas dos jornais!? Daí foi que buscamos nos livros a extensão de seus pensamentos que aprendemos admirar nos jornais.

Quanto a notícia, essa já está pronta. Quase não utilizamos mais a expressão: “Tá sabendo?” como se fôssemos detentor exclusivo da ‘novidade’.

Hoje, a notícia lida, já não chega com o ineditismo que antes ansiávamos, pois dela tomamos conhecimento imediato. O que falta é a notícia comentada, discutida com os críticos, o seu sentido e a sua consequência.

Os jornais de hoje deveriam destinar um espaço maior para as contribuições daqueles que se dispõem a escrever um artigo, uma crônica e não têm oportunidade de manifestar a sua opinião.  Claro que estou salvaguardando os colunistas que dão ao jornal o seu estilo característico e aos habitués que já ‘frequentam’ as suas páginas. Faço justiça em lembrar que o jornalista Marco Aurélio de Sá, em seu jornal O JORNAL DE HOJE tinha essa janela aberta para os aprendizes de escritor, entre eles, eu.

Então o que aqueles (que desejam ter seus textos publicados) fazem? Buscam os canais alternativos onde sua “voz” escrita é acolhida e como tal é divulgada. Esquecem os jornais escritos, já que nos blogs e afins encontram guarida.

Ser criativo e estimular a formação de novos leitores é o que perpetua um jornal escrito. Cada aspirante abre o leque de novos leitores, que se reproduzem em divulgar: “Você leu o artigo de… no jornal?”.

Portanto, “Senhor Redator”, transmita ao estimado Serejo que “os dedos e as coisas da vida comum” continuam sendo o feitio da crônica. Continue a “contar pequenas histórias renegadas pela literatura e imprestáveis para a consagração”, como diz.

Garanto, no entanto, que suas histórias não serão esquecidas.

Seus escritos já o consagraram.

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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