Sábado desses acordei com o toque irritante do telefone. Antes de me certificar quem chamava consultei o relógio de cabeceira que marcava 6h15. Era a esposa de um velho amigo. Ela sequer me cumprimentou indo direto ao assunto: Vocês estão com alguma viagem programada para os Estados Unidos? Respondi enfastiado: Não. Por quê? E ouvi: Preciso comprar um produto para salvar o nosso casamento!

Curioso, arrisquei saber quão especial era a encomenda para a amiga me acordar àquela hora. Dissipadores de gases intestinais! – adiantou-me ela. Acostumado com as presepadas da figura, mandei-a procurar outro freguês para fazer de otário e me deixar dormir. Desfiz a ligação e tentei reconciliar o sono.

Passado algum tempo, já desperto de todo, comecei a matutar sobre a pretensa pegadinha da amiga. Recorri à internet e, para minha surpresa, descobri que existe o tal artifício para amenizar a ação de puns insuportáveis. Trata-se de um produto bizarro, criado por conta de uma situação mais grotesca ainda.

Vale a pena reproduzir a história, pois é provável que inúmeros casamentos enfrentem o problema de uma vida amargurada, diante da possibilidade de desenlace de uma união estável por conta de gases intestinais. Afinal, tanto é difícil conviver com o mau cheiro gaseificado do parceiro, quanto atinar para a solução de como eliminá-lo.

Um casal norte-americano estava com o matrimônio em crise. A esposa convivia com um distúrbio inflamatório crônico chamado doença de Crohn. Tal inflamação afeta o trato digestivo causando diarreia, dor abdominal e, o pior, agrava o mau cheiro da flatulência.

Os frequentes e fedidos traques da mulher estavam tirando do sério o até então compreensivo marido. Para tentar salvar seu casamento o dito cujo procurou uma saída consensual e prática, pois ainda prezava a peidorreira como bem comprova a solução encontrada.

O artefato anti-pum nada mais é do que uma roupa de baixo com um filtro removível na parte de trás. O inventor tomou por base filtros de máscaras respiratórias utilizadas por trabalhadores de minas de carvão. O problema do casal foi resolvido e hoje eles vivem das rendas obtidas com a comercialização da invenção.

Podem rir, mas é a pura verdade. Para os Interessado no produto, as calcinhas e cuecas anti-pum são negociadas pelo site virtual Under-ease, que entrega as peças no mundo todo. É ver para crer ou, se for o caso, usar e praticar para saber.

Determinados artefatos, em momentos de extrema necessidade, saem da faixa da esquisitice para assumirem a condição de imprescindíveis e nada estranhos. Um exemplo já assimilado pela população idosa é a peça íntima fabricada para quem sofre de incontinência urinária.

Somente será entendido o seu real valor prático, quando o indivíduo estiver diante da constrangedora situação de não mais poder controlar a micção num ambiente público sem tempo de acorrer a um mictório.

O telefonema da amiga deixou-me uma lição. Num mundo virado de ponta cabeça como o nosso, até o impossível é admissível. A partir de agora não estranharei nenhuma compra que me peçam para fazer, por mais absurda que pareça.

Evitei perguntar pelo usufrutuário da encomenda, embora já desconfie quem seja, no casal, o desventurado portador da doença de Crohn.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

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