ENCADERNANDO FASCÍCULOS – 

Enquanto se discute qual é a melhor e qual a eficácia das vacinas contra o Coronavírus, vou rebuscando nas gavetas e prateleiras, soprando a poeira, o quanto os fascículos encadernados por toda uma vida, sobre os mais diversos assuntos, significaram para mim.

Quando a informação não era tão aberta e acessível, buscávamos nos fascículos semanais ou mensais a quota parte do conhecimento que os mesmos ofereciam. Para mim era uma maravilha e de um valor inimaginável ir às bancas de revistas (cigarreiras) comprar, com as economias poupadas para esse fim, os diversos fascículos que iriam compor coleções tais como, ‘Conhecer’, ‘Enciclopédia Abril’, ‘Medicina e Saúde’, ‘Vida Íntima’, ‘Armas de Guerra’, ‘Como Funciona’, entre outras.

Um deleite para a ânsia de um jovem em busca constante pelo saber, nos mais diversos assuntos. Lia de cabo a rabo, como se ali estivesse a única chance de evoluir no conhecimento e formação para a vida que despontava pela frente. Meu pai sempre me disse que o saber era o único bem que ninguém poderia nos roubar. Ele era meu incentivador. Comecei folheando sua coleção de Tesouro da Juventude, daí passando para os almanaques do Biotônico, as estampas do sabonete Eucalol, O Cruzeiro, Soldadinho de Deus (LBV), Revista do Rádio, Revista do Esporte… até o livro ‘A Nossa Vida Sexual’ do Dr. Fritz Kahn, chegando então à Revista Veja nº 01 – 11 de Setembro de 1968 –  “O Grande Duelo no Mundo Comunista”, que guardo até hoje.

Com o passar dos anos, foram ficando obsoletas quanto aos conteúdos técnicos devido à evolução da tecnologia, dos novos materiais, dos novos conceitos, das novas descobertas. Porém uma coisa não passou, não foi perdida, não se esgotou: o prazer pela leitura e pelo saber.

Nos dias atuais, e lá se vai mais de meio século, fico pensativo e, porque não, tristonho, quando insisto para que os jovens leiam livremente, sem influência ideológica de qualquer espécie, e ampliem a visão do mundo e do conhecimento geral.

-Tem tudo na internet!

Tem sim. Mas você não se apropria, no bom sentido, da ‘descoberta’. Tudo é efêmero. É preciso que o senso crítico saiba discernir o certo do errado, o bem do mal, a verdade da mentira. É como se deixasse o outro pensar por você e você agir como o outro deseja. Não posso nem devo generalizar, mas, apesar de o conhecimento estar mais acessível, também está mais danoso se não soubermos tirar proveito dele e não ele de nós.

Pois bem. Tudo isso para chegar ao ponto chave deste escrito: o encadernar dos fascículos da vida.

Se revirássemos a memória e fôssemos colecionando os fatos, as vivências, as ocorrência boas e as más, as alegrias e as tristezas, os ganhos e as perdas, os momentos de felicidades ou de tristezas, de vitórias ou de derrotas, de retomadas ou de entrega por desânimos, bem que poderíamos associá-los a esses fascículos que, hoje, maturados pelo tempo, foram encadernados e receberam na capa o título: Minha Vida .

Certamente quem ousasse lê-lo não saberia precisar a quantidade de fascículos que foram necessários para que o crescimento emocional e o cabedal de conhecimentos que detivemos, encadernados em um ou em vários volumes, estão repletos de experiências que, às vezes, se perdem no tempo por desleixo dos mais compassivos diante da própria vida.

Confesso que encaderno diariamente os fascículos vividos até ontem, e que, dependendo do tema, vou transformando em volumes sem nenhuma certeza de que haverá um número predeterminado deles. Sei, no entanto, que submetê-los-ei ao Senhor meu Deus como depoimento de uma vida bem vivida, considerando o equilíbrio inerente a um homem pecador.

Claro que na Sua biblioteca divina as encadernações não estão separadas por assunto, mas, certamente, o título será único em todas elas: Quais as suas Obras?

Continuemos encadernando fascículos que tratem do amor ao próximo.

 

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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