Tenho estado fora de Natal há alguns dias, mas venho acompanhando pelas redes sociais, desde domingo, entre perplexo e apreensivo, tudo o que rola na cidade. Repetição do que já aconteceu noutras capitais do Brasil desde o inicio do ano. O fato é que Natal está em chamas! E o RN também. A culpa é de quem? A quem clamar por socorro? Clamar por quem, pelo amor de Deus?!?!

Confesso que esse assunto não é dos meus preferidos. Tampouco, tenho conhecimento profundo sobre ele. Mas as informações que recebi e continuo recebendo são contundentes e também conflitantes, como percebi nas várias leituras que fiz. Uns culpam o governo e a politica, outros os bandidos, outros o sistema como um todo, outros a policia, outros a justiça, o sistema carcerário, enfim, um monte de pessoas e instituições. Enquanto alguns se mantém calados. E assim a coisa vai indo. Mas solução que é bom, até o momento que estou escrevendo essas mal traçadas linhas, nada!

Tenho até receio de dizer o que penso. Pois há plantonistas e fiscais de pensamento para todos os gostos. Se você culpar a bandidagem, vão aparecer aqueles que irão dizer que a culpa é da sociedade e acusarão você, sem dó nem piedade, de reacionário, de direita, etc. E alegarão teses em favor do que chamam de “Direitos Humanos”. O contrário também pode acontecer. Se culpar o governo, alguns dirão que você está se posicionando contra a ordem estabelecida, etc, etc. Cada um parece querer saber mais que os outros. E ainda há os que querem tirar proveito próprio do imenso caos que assistimos, como se tudo fosse um mero capítulo de novela, que vai parar no intervalo comercial.

Pelo que li, na minha cabeça chegaram cenas de filmes de terror e de uma violência generalizada, como assisti nos filmes da série Mad Max, estrelado pelo ator australiano Mel Gilson. Uma loucura total.  Cada um por si e o Diabo por todos. E Deus apostando no livre arbítrio dos humanos, que parece estar pendendo mais para o mal do que para o bem.

Realmente parece que a coisa está preta e isso não é privilégio do Rio Grande do Norte. O Brasil é um país que há anos não deu a mínima para várias questões, dentre elas a questão da Segurança Pública. Como também não realizou políticas públicas corretas noutras áreas. Que não investiu principalmente na Educação, nem na Saúde, e que por isso mesmo experimenta agora os resultados dolorosos desse terrível descaso.

Observando de longe, avalio que são muitos os culpados por esse estado de coisas. A começar pelas próprias pessoas, por não escolherem bem os seus representes. E nem saberem cobrar do Poder Público, as medidas que efetivamente precisam ser tomadas. São muitos os que ainda praticam a lei de Gerson, que preconiza que o brasileiro tem que levar vantagem em tudo. Inclusive na política. Mesmo que isso traga um mal maior e coletivo. E a grande massa ainda está mergulhando nessa onda, que só traz malefícios para ela própria.

Por outro lado, a classe política e o governo parecem viver numa redoma de vidro. Encontram-se anestesiados pelo efeito deletério de um passado de comportamentos superados, onde tudo era possível e permitido, sem cobranças ou questionamentos. E que não se deram conta das transformações que continuam acontecendo no seio da população, na periferia das cidades e nos campos. E que não se aperceberam do aumento em nível geométrico do número de pessoas carentes dos serviços públicos, da assistência básica e da proteção que se espera de um estado protetor e presente para com seus cidadãos.

Menosprezaram muitas coisas, essa é a cruel verdade. O Governo central ignorou também, dentre outras coisas, o também geométrico crescimento do tráfico de drogas e armas que chegavam nas favelas e nos lugares mais longínquos, para serem comercializados no varejo ou entregues às empresas da bandidagem. Sem se importarem com uma política efetiva de fiscalização das nossas próprias fronteiras, como se nada estivesse acontecendo. Como se vivêssemos num país de conto de fadas, de faz de conta, enredo de uma pequena estória de Trancoso.

Inverteram as regras em geral e agora percebemos que está tudo de cabeça pra baixo em nosso país. Não se construiu presídios, ensejando a superlotação. Deixou-se surgir as facções do crime organizado, que agora tocam horror no país, num festival de barbáries as mais escabrosas. Os menores, esses não podem trabalhar, mas podem roubar e matar a vontade, pois são soltos logo depois de apreendidos. Não se valorizou a ação das polícias que, diferentemente dos países civilizados, são pessimamente remuneradas e mal equipadas para o combate ao crime. E os policiais ainda correm o risco de serem criticados quando no exercício da sua profissão.

Hoje, os professores, também mal remunerados, não podem mais admoestar nem reprovar alunos relapsos, com medo de sofrerem reprimendas dos diretores de escola, ou até mesmo de perderem seus empregos. Os pais temem corrigir os filhos, pois podem ser incriminados por alguma lei solta por aí, taxando-os de opressores. O fato é que criminalizaram um bocado de coisas, em nome de algo que nem se sabe o que, enquanto afrouxaram a corda para outras tantas, enfraquecendo o sentido de família, de nação, entre outros. Passamos a viver um país de direitos de toda espécie, sem haver as contrapartidas dos respectivos deveres. Cadê os deveres e a responsabilidade de cada um? Na contabilidade da vida, como em tudo, precisa haver equilíbrio. Como nas contas, no débito e crédito, nos compromissos e por aí vai.

O Brasil vive uma realidade parecida com a dos que sofrem de anorexia. Essa doença que faz a pessoa magra se ver gorda no espelho. Uma deturpação visual que muitas vezes pode levar o doente à morte. E o que se percebe claramente é que as coisas estão de fato muito distorcidas por aqui. O país distorceu valores, atitudes, prioridades, e os problemas estão aí a olhos vistos. Como nesse caso especifico da violência desregrada. Os cidadãos de bem, desarmados e acuados em suas casas. Os bandidos por sua vez, presos ou soltos, armados e criando terror na sociedade. E muitos achando que está tudo bem, que é para ser assim mesmo. Uma realidade totalmente nonsense, desprovida de qualquer lógica.

O nosso país precisa urgentemente acordar desse sono já secular em berço esplêndido. Precisa priorizar o que é de fato para ser priorizado. Para começar, investir de fato e seriamente na Educação, como fizeram há décadas os Tigres Asiáticos, com resultados por todos conhecidos. Os jovens precisam de uma educação de verdade, que os prepare para a vida. Eles precisam amar esse país, olhar para o futuro com segurança e destemor, sabendo que as oportunidades existirão. Deixando assim de optarem pela criminalidade, quase sempre uma viagem sem volta. A escola precisa voltar a cumprir o seu papel. Os professores precisam ser valorizados. Essa a meu ver deve ser a principal missão do Estado. Depois virão as outras prioridades.

Dentre as outras prioridades desponta a atenção com a Segurança Pública, nas suas várias formas. Com a valorização dos seus profissionais e com a adoção de um arcabouço jurídico compatível com o das nações mais desenvolvidas. Acabando com a dicotomia usual de “a polícia prende, a justiça solta”, por causa das leis mal feitas pelo legislativo. Além disso, torna-se gritante também a necessidade de modernizarmos o nosso precário sistema de Saúde Pública, que lamentavelmente se transformou noutro circo de horrores. Creio que essas devem ser, em conjunto, a grande prioridade nacional para este início de século.

Precisamos reconstruir o nosso país. Precisamos abolir a lei de Gerson. Precisamos apagar vícios do passado e escrever uma nova História. Para tanto, precisamos nos unir para juntos sairmos desse calamitoso momento. Precisamos fazer valer o fato de sermos a sétima economia do mundo, incentivando o empreendedorismo, buscando o crescimento econômico, mas também o caminho da justiça social. E isso, o mais rápido possível. Precisamos valorizar o que de mais caro um país pode ter, que é o seu próprio povo. O que só acontecerá com políticas públicas realistas voltadas para a promoção dessas mudanças tão almejadas.

Nelson FreireEditor do Blog Ponto de Vista

 

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