E O TEMPO PASSOU –

Corre à boca pequena que a instituição do casamento está entrando em colapso, dando seus últimos suspiros. Fato ou realidade, o que eu vejo à minha volta são situações que comprovam apenas que os humanos estão deixando o bom senso e a sensatez de lado na hora de escolher um parceiro ou parceira. A impressão é que o instinto tem falado mais alto que a razão, o invólucro vale mais que o conteúdo. Por quê? Uma criatura bela é, com certeza, atrativa, mas nem sempre podemos levar para o jantar o que comemos no café da manhã.

A sabedoria popular se confirma, mais uma vez, quando afirma que “beleza não põe mesa”. Num mundo povoado de modelos (impossíveis de copiar), jogadores de futebol e ícones de fama relâmpago, todos possuidores de “ininvejável” acervo cultural e vocabulário minguado. Os poetas, gentlemen e damas, as pessoas de Q.I. normal e pensamento lapidado estão sendo preteridas. Neste estágio social, não haveria lugar para pessoas do calibre de Vinícius ou Drummond, cujas maiores qualidades não eram a beleza física, mas a intelectual. As uniões são instáveis. Depois de apagado o “fogo da paixão”, não há afinidades. Os laços são frouxos. Os pilares do relacionamento não possuem fixação, ninguém se apega e tudo é transitório. Infelizmente, às vezes criam-se consequências duradouras, como filhos, que crescem neste mesmo padrão viciado de escolhas e perpetuam a mais uma geração os fátuos ensinamentos.

Para romper este ciclo, não podemos esperar consciência das próximas gerações. Devemos mudar de imediato. Conhecer, difundir e exigir cultura e sabedoria de hoje em diante. Ignorar e romper pseudopadrões de escolha e aceitação. Compreender beleza como arte e natureza. Os padrões estéticos não são capazes de manter vivo o interesse, a beleza humana esgota após um par de décadas. A poesia, a arte e a cultura são eternas e servirão como temas para conversas após meio século de união, quando os cabelos e dentes não serão tantos, nem tão brilhantes, a pele não terá viço, os olhos não enxergarão a beleza inexistente e a memória não será forte o suficiente para recordá-la.

 

Ana Luiza Rabelo – Advogada ([email protected])

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