DOM BOSCO E BRASÍLIA –

Na presidência do Brasil, Jânio Quadros, ex-aluno salesiano, conhecedor do sonho-profético de Dom Bosco sobre a nova capital, pediu permissão ao Vaticano para tê-lo como santo padroeiro de Brasília. Roma autorizou fosse o criador da Congregação Salesiana co-padroeiro, pois o Vaticano já assinara decreto indicando Nossa Senhora Aparecida como padroeira da recém-inaugurada capital.

Ficaram famosos os sonhos de Dom Bosco (1815-1888), relatados numa assembleia geral da congregação que presidia, em setembro de 1883. O salesiano narrou aos presentes o sonho-visão que tivera no mês anterior. Em resumo, o sonho retratava uma viagem sobre a América do Sul, assim descrita:

“Estre os graus 15 e 20, aí havia uma enseada larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Nesse momento ouvi uma voz que dizia repetidamente: quando vierem se escavar as minas escondidas em meio a estes montes, aparecerá aqui a terra prometida, onde verterá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”.

E a voz, continuou esclarecendo a Dom Bosco: “…Isto acontecerá antes que passe a segunda geração. A presente geração não conta. Será uma outra, depois outra. Cada geração corresponde 60 anos”.

Brasília está postada exatamente entre os paralelos 15 e 20 da Carta Geográfica. É certo, portanto, que Dom Bosco anteviu Brasília com precisão. A inconsistência é que Brasília nunca produziu o que a locução leite e mel insinua: fartura, riqueza, progresso, ordem e felicidade. As duas gerações tratadas na previsão, uma delas seria entre 1943 e 2003 e, a outra, iniciada em 2003 findará em 2063.

Em 1971 o Marquês de Pombal, então primeiro ministro de Portugal, propunha mudar a capital do império português para o interior do Brasil-Colônia. José Bonifácio, o Patrono da Independência, foi a primeira pessoa a se referir à futura capital do Brasil, em 1823, como Brasília. Coube a Juscelino Kubitschek, na presidência da República, estabelecer a construção de Brasília como prioridade de seu Plano de Metas.

Lúcio Costa e Oscar Niemayer, respectivamente urbanista e arquitetos, criaram uma cidade futurística que foi fundada em 21 de abril de 1960, no mesmo dia e mês da execução de Joaquim José da Silva Xavier, líder da Inconfidência Mineira, e data da fundação de Roma.

Nesses sessenta anos de existência nunca se viu ou se ouviu falar de emanar da Terra Prometida preconizada por Dom Bosco, leite e mel nem riquezas inconcebíveis. No período ocuparam a presidência da República 16 mandatários, dentre os quais cinco militares durante os 21 anos do Estado de Exceção no país. Houve uma renúncia, um apeado do governo e dois impeachements.

Houve ainda um incomum crescimento econômico (14% ao ano), boa valorização da moeda e até um período como a 7ª maior economia do planeta. Onze anos atrás o Brasil ganhava destaque na revista britânica The Economist como uma economia promissora. Anos depois, a mesma publicação voltaria a tratar da economia do país, mas de maneiras diferentes: a frase “Brasil decola” de 2009 foi substituída pelas manchetes “Brasil estragou tudo” em 2013, e “A traição do Brasil” em 2016.

Dom Bosco nos deve a concretização de parte de sua alvissareira profecia para Brasília. Roguemos ao santo padroeiro rapidez nesse milagre, porque o desamparado povo brasileiro não suporta nem merece tantos infortúnios e desacertos políticos.

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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