DIFERENÇAS QUE IMPORTAM –

Na vida aprendemos inúmeras regras, teoricamente suficientes para ocupar integralmente o nosso cérebro. Na realidade, contudo, os milagres acontecem e muitas vezes deixamos levar pelas coisas do coração e, de repente, começamos a viajar no olhar de alguém ou nas melodias cantaroladas por nossos semelhantes.

Desde cedo entendemos que o “a” é o singular de um artigo definido feminino capaz de determinar e informar o número e gênero do substantivo, podendo, ainda, ser encontrado na forma de preposição. Já o “há” é a conjugação do verbo haver, no sentido de existir.

Restam, na possível confusão quando da aplicação destas letrinhas e seus significados, muitas respostas para os acontecimentos da vida.

Outro dia tive a oportunidade de assistir uma apresentação da Banda Paralamas do Sucesso, me encantando com a performance do líder do grupo, Herbert Viana: havendo se tornado paraplégico após acidente aéreo, com força de vontade e altruísmo, retornou aos palcos, não apenas cantando, mas sobretudo para encantar. Olhando atentamente para os movimentos do artista, vislumbrei, senão muita alegria, mas a confirmação de não existir no cotidiano, nada tão alto que o homem, com força de vontade, não possa apoiar a sua escada. Apesar de aplaudir sua performance, senti nos movimentos de seu corpo, o admirável sorriso de um coração, possivelmente triste.

Neste mesmo período, comecei a acompanhar o drama da cervejaria mineira “Belorizontina”, tida como uma das melhores artesanais do Brasil, degustada aos galões por milhares de festeiros, mas que, de uma hora para outra passou a ser considerada a birita da morte. Não se sabe se por falha mecânica ou sabotagem, mas a verdade é que pessoas perderam a vida, ao degustar a até então preciosa e premiada bebida de Minas Gerais.

A diferença entre “há” ou “a”, quando faladas, não fica clara por não as vermos escritas, embora quando grafadas, devamos ficar atentos à qual deles (há ou a) nos referimos.

Olhando para Herbert Viana em seus shows, entendi nele haver por atrás de uma aparente dureza, tesouros de satisfação e afeto, explicitando ser a vida como a música, quando composta, com muita sensibilidade, intuição e carinho, jamais contendo normas rígidas.

Aprofundando leitura sobre a cerveja Belorizontina, não somente confirmei a ideia, de ser a mesma atualmente encarada como “a” birra (chope) do falecimento, mas que principalmente, os acidentes existem e sejam eles causados por falhas técnicas ou influência humana, regras duras em sua linha de fabricação nunca deveriam deixar de serem seguidas.

Ante os acontecimentos com os quais convivemos capazes de mover o universo, fundamental se torna sabermos não bastar existir, sendo indispensável viver. Importante é sermos “a” referência como pessoa, embora de nada adiantasse não “há” dentro de nós a perspectiva de que viver é muito mais que existir.

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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