DESCORTINANDO MISTÉRIOS –

Sempre senti muito amor e afeto por papai. Certo tempo viajava com constância para Orlando, onde fazia trabalhos jornalísticos para a Arituba Turismo, atuando junto de Padang e do fotógrafo Luiz Carlos Paparazzi.

Num desses voos Abdon Gosson me deu um desconto para uma companhia, e levei papai.

A programação era intensa, ficamos hospedados num dos resorts da Disney, papai estava em êxtase, apesar de idoso, ia em todas as montanhas russas e brinquedos arriscados. Eu não tinha coragem e continuo frouxo até hoje.

Foi uma viagem inesquecível. Papai adorava os americanos. Trabalhou na base aérea de Parnamirim para eles, cuidando de um almoxarifado. Aprendeu inglês e a voar. Pilotava teco-teco.Era militar e se aprontou para embarcar. Confessou decepção quando os alemães se renderam abortando seu desejo de pisar solo italiano e guerrear.

No dia sem programação da excursão, ficamos no hotel, e de noite deitamos numas cadeiras observando o céu. Fixamos olhares e entre uma apreciação e outra do belíssimo teto estelar, fomos trazendo do passado zonas obscuras ainda sem esclarecimentos.

Enquanto o espocar de fogos do Magic Kingdom não fechava a noite, fiquei sabendo detalhes das duas separações de mamãe, das dores de cabeça, sua vida no Banco do Brasil, na odontologia, os feitos militares, a vida de jovem em Natal, os bondes, namoros regulados, veraneios na Redinha e Ponta Negra, além de sua opinião sobre diversos assuntos.

Um papo aberto e civilizado entre um filho e um pai abre as portas do respeito e escancara as janelas da boa convivência. Depois desta noite ainda tive outras oportunidades para beber da fonte de papai.

Hoje coloquei um filme da Netflix sobre Gagarin, o russo que primeiro entrou em órbita. Quando criança ele perguntou a humilde mãe, o que eram as estrelas, com ela amorosamente, enquanto cobria seu pequeno Yuri para dormir, respondendo que eram almas de pessoas boas brilhando. Imediatamente olhei fotos de papai ao redor da TV, e concordando com a mãe de Gagarin, disse internamente: papai é uma estrela e sempre brilhará em meu céu.

Flávio Rezende – Jornalista e ativista social

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *