O que você vê e sente quando está parado diante de um semáforo? Simplesmente aquela engenhoca que disciplina o tráfego de veículos? Que indica o momento de alguns pararem para outros seguirem? Ou tem algo mais que fascina, que mexe com seus sentidos diante de um sinal de trânsito? Parado em um semáforo, inerte em seus pensamentos, em suas preocupações, muitas vezes tentando ganhar a corrida contra o relógio, você mal se dá conta de quanto o sinal de trânsito significa e, ao mesmo tempo, demonstra, explicita o sistema político conhecido como democracia. Em primeiro lugar o sinal é impessoal. Diante dele – qual juiz de olhos vendados – todos são iguais perante a lei – a sua lei, ou seja: o conjunto de procedimentos para o qual foi programado. Do alto de sua imponência, de sua precisão tecnológica, vê, inertes, diante de seus pés, das mais simples às mais importantes figuras do pedaço que domina.

Em segundo lugar, o semáforo é um instrumento civilizatório. Pode prestar atenção: em cidades do chamado Terceiro Mundo – e até em geografias mais atrasadas, digamos de Quarto, de Quinto Mundo, normalmente dominadas por ditadores e tiranos dos mais variados matizes – o que se vê em matéria de trânsito urbano? Um caos total, em assombrosa semelhança à situação do estado de suas instituições. Em lugares civilizados, por mais complicado que seja o trânsito, normalmente engarrafado por falta de soluções viárias, o semáforo está lá – para impor regras, limites, ordem… Bloqueando os mais apressados, botando pra andar os mais lerdos, os mais distraídos, sem visualizar status, posições sociais, cor, raça, credo, altura, peso… Se o carro é novo, usado, ou caindo aos pedaços, independente de hora, de dia, de lugar, chovendo ou fazendo sol, cumprindo fielmente o que lhe está proposto.

É claro que, de vez em quando, o semáforo dá o prego. Manutenção precária, falta de energia, um carro desgovernado que lhe atinge – normalmente dirigido por motorista irresponsavelmente embriagado – e põe sua eficiência ao chão. Aí o pandemônio se instala… Gritos, desaforos, agressões, buzinaços, a lei do mais forte, do truculento, do incivilizado, dono do carro mais robusto, avançando sobre os outros, impondo sua, até então, incubada irracionalidade. Ampliando o olhar sobre tais eventos, veremos o indispensável funcionamento do semáforo à semelhança da atividade plena das instituições de um país. Quando funcionam, a igualdade de direitos beneficia a todos; quando em pane, ensejam o surgimento dos tiranos, dos truculentos, dos corruptos, dos que querem levar vantagem em tudo, a qualquer preço. É impressionante o parentesco da quebra do semáforo com o apagão da matriz democrática de uma nação!

E a desobediência ao semáforo? Sabe-se que incorre em perigo de morte, prejuízos materiais, caos de toda ordem na vida dos envolvidos. Aí, alongando o olhar e as proporções, vemos quão grande o estrago feito quando políticos, empresários e agentes públicos desprezam as normas que regem as instituições e, com tais gestos, despedaçam sonhos, planos e desejos de uma nação inteira. Exemplo? O que vem sendo descoberto pela Operação Lava Jato! A união de um bando de agentes de natureza criminosa a desrespeitar normas éticas e instituições como a atropelar indefesos nos semáforos da vida. Gente que, do mesmo modo que desvia preciosos recursos públicos, destinados a hospitais, escolas, portos, estradas, ultrapassa um sinal fechado – e vê nisso gesto banal, sem importância. Atenção, atenção! O sinal abriu! Maravilha! Pura democracia. Vá em frente (direito seu)! Respeitando a vida. A sua e a dos outros…”

Públio José – jornalista

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