De poemas herméticos (que uns acham que são e outros não)
Vênus no espelho
(Vendo Velázquez)
Deitada  no quarto em penumbra
Entre lençóis de linho encoberta
Enroscada desnudado em ter-te
Inalcançável como uma asa
Refletida  faz-te e semeada
Em chão de pedras batidas
Pontos de luz fogaréu ao longe
No quadro antigo em claro-escuro
O riacho em cheia parecendo rio
Em faces de espelhos d’água onde
Meu  fogo afoga-se sem guarida
Como se irreal imagem fosse
Vertida em desconsolo imenso
No vazio do meu gesto em ver-te
Vinga  o meu sofrimento
Aritmética
A minha palma se prende
Ao que a tua arrisca
No cabo da faca onde
Em lâmina a razão se corta
E na pele apaga arisca
A cadência espasmódica
Da dízima periódica do medo
Que o esgar da morte avulta
A fúria frontal que se esconde
No equilíbrio dos dedos
Da tua mão que fere avulsa
Paranóia
Temo  tanto a noite escura
Quanto os amigos que desconheço
Mas pra tentar entender é preciso
Num nada a fazer que se prende
Ao que a incompreensão se apega
Irracional seguir célere
Até chegar onde não ter onde ir
Mesmo que seja ao limite
Das barras do meu próprio cárcere
José Delfino – Médico, músico e poeta.
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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