DE PERSPECTIVAS UM TANTO EMOCIONAIS –

Auto cognominados estamos os animais “racionais e inteligentes”. Nossos horizontes são limitados por ideologias. Inseridas estão elas em nossos diversos sistemas sociais. Conceitos ditos “existenciais” estariam, cada vez mais, a perder o lado místico e a se relacionar mais a processamentos de dados, de uma forma cada vez mais rápida. Quando eu era menino, os irmão Maristas me ensinavam que a vida era uma dádiva de Deus e que deveríamos amá-lo acima de todas as coisas. Aos dezoito anos, estudando para o vestibular de Medicina, me deparei com outro conceito, essencialmente materialista, técnico, bizarro, e à época e à luz da ciência, um tanto incipiente; se não me falha a memória, de Linus Pauling: “A vida é a reprodução autocatalítica dos polímeros macromoleculares”. Desde que entendidos os significados dos termos técnicos alocadas na proposição, haveria até uma certa lógica. Entretanto, a inferência resultante vazia e surreal; como se disséssemos que ao espremermos o Papa obteríamos o “sumo pontífice”. Voltando tudo, então, à estaca zero.

Mas já começa a se esboçar a probabilidade do surgimento do que poderia vir a ser uma nova religião, imagine, o Dataismo. Na qual a vida seria um infinito processamento de dados, entrando nós no contexto como meros “chips”. E a morte a ser entendida, consequentemente , como a simples interrupção do fluxo de informação em cada um de nós. Entramos definitivamente na era do algoritmo; conceito de informática entendido como um conjunto de regras e operações bem definidas e ordenadas destinado à solução de um problema essencialmente matemático, em um número finito de etapas. Raciocínio a um tempo, real e perverso, donde poderia surgir a indagação sobre o que seria melhor para nós no futuro, se a consciência ou a inteligência. Talvez a consciência eu diria, na medida em que a capacidade de raciocínio (nossa inteligência) já não seria mais suficiente pra processar a imensidão de dados com os quais seríamos – e já somos – diuturnamente abarrotados no espaço cibernético.

Ora, se já apareceram várias religiões ( Cristianismo , Islamismo , Comunismo , Nazismo , Fascismo, só para citar algumas ao longo dos séculos ) por que o avanço da tecnologia não propiciaria o aparecimento de uma a mais? Assim como o Capitalismo, o Dataismo começou como uma teoria científica neutra, cujo valor supremo, seria o fluxo de informação. A partir daí, passou a se arvorar, a impor regras, a determinar o que é seria o certo ou o errado. A modernização conceitual do ancestral pecado bíblico; a internet de todas as coisas; o sistema de processamento de dados, que em etapa extrema e cósmica, poderia vir a ser Deus, estando em toda parte e controlando tudo. No Vale do Silício, os novos profetas já esboçam a linguagem messiânica das escrituras sagradas ecoando o que está em Mateus 3:1,2: “E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia, dizendo: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. O novo reino dos céus, portanto e em tese, estaria próximo. Algo arrepiante, mas um fato real a ser levado em consideração .

As máquinas estão a sugerir que ao fim e ao cabo somos um algoritmo orgânico a ficar obsoleto. Felizmente, não irei viver o suficiente pra ver a evolução de tudo isso. O que iria acontecer a nós humanos quando os algoritmos inorgânicos, os das máquinas, altamente inteligentes e superiores aos dos nossos corpos, começarem a nos conhecer melhor do que nos conhecemos. Uma máquina inteligente capaz de realizar as coisas que somos capazes. Capaz de se reproduzir numa outra máquina mais inteligente do que ela mesma. O que aconteceria com a máquina seguinte. E logo nós, a origem de tudo isso, não passaríamos em grau de importância, nada além do que que um ser unicelular ( uma ameba , por exemplo) para os computadores da mais nova geração. Os reinos de Jesus , do “Super-Homem” de Nietzsche , do Orwelliano “Grande Irmão”, ou de outro qualquer, talvez não evoluam tanto quanto as evidências sugerem. Simples suspeita, à luz dos fatos concretos que estão a acontecer nos nossos dias tão informatizados .O fato é que no jogo de azar da vida as cartas já estão postas na mesa. E dadas por nós mesmos, os humanos.

 

 

José Delfino – Medico, poeta e músico
As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *