Há várias décadas, Marilu era dona de uma famosa casa “suspeita” em Natal. Apesar da discriminada profissão, era uma mulher de respeito, educada e discreta. Destacava-se pela beleza e fidalguia. Apresentava-se como empresária da noite. Mas, na realidade, era uma empresária do sexo.

Autodidata, Marilu gostava de ler e estava sempre atualizada com a situação política do País. Enquanto foi jovem, despertou grandes paixões nos senhores “respeitáveis” de Natal e de fazendeiros ricos do interior do Estado.

Não frequentava templos, mas no seu quarto mantinha sempre uma vela acesa, junto aos santos de sua devoção.

O seu estabelecimento comercial era frequentado, assiduamente, pelos homens mais ricos da cidade, incluindo conhecidos políticos, advogados, médicos etc.

Entre os principais frequentadores, estava o Sr. Vilton, um conhecido político de Natal. Apesar de ser “bem casado”, bom marido e excelente pai, esse homem era perdidamente apaixonado por Marilu.

Dona Conceição, sua esposa, de prendas domésticas, ia à missa constantemente, comungava e vivia longe da maldade do mundo. Não imaginava, nem de longe, que o marido frequentasse certos ambientes.

Entre os amores de Dona Conceição e das duas filhas ainda crianças, estava Popó, uma cadela da raça “Poodle”, que acabara de dar cria a quatro lindos filhotes.

O Sr. Vilton avisou à esposa que o filhote mais bonito seria dado de presente à Dona Marilu, uma empresária amiga sua, muito decente, que era louca por cachorros. Disse que essa amiga era uma grande dama e muito respeitada em Natal.

Passados alguns dias, Dona Conceição, arrumando o escritório do marido, encontrou um cartão de visitas de Marilu, a empresária, e anotou o telefone. Curiosa para conhecer essa amiga do marido, cantada por ele em verso e prosa, quis lhe fazer uma surpresa. Telefonou para a mulher, convidando-a para lanchar com ela em sua casa. Disse-lhe que queria ter o prazer de conhecer essa grande amiga do seu marido e também queria lhe entregar o cachorrinho que estava reservado para ela. Ficou combinado que, naquela tarde, à 17 horas, Marilu iria até a sua casa.

Na hora marcada, parou na casa do Sr. Vilton e Dona Conceição um luxuoso GALAXY azul, conduzido por um motorista fardado. Do carro desceu a empresária Marilu, muito bonita, impecavelmente vestida num “tailleur” bege, super discreto, usando sapatos pretos de salto alto e uma bolsa preta. A empresária trouxe para a dona da casa uma corbeille de rosas.

A mesa posta para o lanche tinha o requinte das pessoas nobres. Lá estavam deliciosas iguarias, incluindo bolos, biscoitos, queijos e doces, acompanhados de sucos, chá e café.

As duas damas se cumprimentaram, e Dona Conceição ficou admirada com a fineza, a beleza e a jovialidade da empresária. Certa de que seu marido ficaria muito feliz com aquela surpresa, Dona Conceição disse a Marilu que ele logo estaria em casa.

O Sr. Vilton quase teve um “passamento”, ou melhor, um infarto, ao encontrar estacionado na sua porta o conhecido Galaxy de Marilu, a famosa empresária do sexo, que todos os homens de Natal conheciam.

Ao ver a esposa em altos papos com a visitante, o homem empalideceu, ficou sem graça e quase perdeu a voz.

Considerava Dona Conceição uma santa e não admitia que ela fizesse amizade com uma profissional como Marilu.

Com esse susto, o Sr. Vilton se afastou completamente da “empresária do sexo”.

Dona Conceição nunca soube a verdade sobre aquela “dama”.

Violante Pimentel  –  Escritora

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