Tá difícil por aí também? A transformação que o mundo atravessou desde a disseminação da pandemia do novo coronavírus chacoalhou nossos cérebros e a forma com que nos relacionamos com a vida. O sistema de quarentena – apontado por infectologistas como única saída para evitar uma catástrofe ainda maior provocada pela Covid-19, deixou muita gente sem rumo.

Afinal, como lidar com uma nova realidade que consiste basicamente em ficar dentro de casa e colocar o nariz para fora apenas para ir ao supermercado? Some isso ao temor de ser infectado pela doença, a grande carga de informações e o medo de um grande colapso econômico. O resultado: ansiedade, insônia e abalo da saúde mental.

O filósofo Daniel Barros, professor da The School of Life, explica em conversa com o Hypeness que não se trata de um adoecimento de fato, mas de um receio com a carga negativa dos acontecimentos.

Cuidar da saúde mental no período da quarentena é importante, mas a gente tem que entender que o impacto é mais de aflição, de angústia, do que de adoecimento provavelmente. Pelo menos existem estudos feitos na época da MERS mostrando que as pessoas que entraram em quarentena e tiveram sintomas da MERS ficaram doentes com depressão”, detalha.

O Brasil reporta mais de 30 mil casos da doença até a manhã de sexta-feira (17). Quase 2 mil pessoas morreram em um cenário de ineficiência de testes e subnotificação. Trocando em miúdos, a tragédia é muito maior do que se apresenta. Diante de uma realidade dura, fica difícil não se envolver ou pensar no assunto. O dilema se assemelha com o enfrentado por jornalistas, já que o aumento do consumo de informações torna quase impossível não falar sobre o assunto.

Daniel Barros diz, no entanto, que as pessoas devem prestar atenção na linha tênue entre se manter por dentro da situação e surtar.

“As pessoas que não entraram na quarentena pelos sintomas, não tiveram adoecimento. Sim, é um momento de estresse, que a gente precisa se preocupar  com nosso estado emocional, mas não é isso que vai adoecer as pessoas. O que vai adoecer é justamente esse excesso de informação que bombardeia nosso cérebro. Enquanto nos cercamos de notícias de morte, doença e tragédia, corremos sério risco de adoecer de ansiedade, mesmo sem o risco de ficar doente pelo coronavírus”, alerta o psiquiatra.

Solidão e solitude 

A humanidade enfrenta a mesma tempestade, mas está muito longe de dividir o mesmo barco. Disparidades sociais aprofundadas pelo vírus constroem realidades e desafios distintos e que refletem na mente de formas diferentes. Em uma cidade como São Paulo, que em cenários normais já convive com níveis elevados de depressão, a solidão é uma preocupação.

Parte da população que viveu até aqui sozinha em suas casas e sem dificuldade, se vê agora em um momento distinto. A sensação de solitude, quando você está satisfeito em ser sua principal companhia, caminha junto com a liberdade. Ou seja, por mais que o sujeito se sustente e desfrute da vida sem outras pessoas dentro de casa, encontrar os amigos em um bar ou restaurante são programas essenciais para manter o equilíbrio.

“O trabalho dos profissionais de saúde mental nessas situações é muito importante para dar um suporte, sobretudo os psicólogos, que auxiliam com terapias e aconselhamento para pessoas que estão angustiadas, mesmo que ainda não estejam doentes. E, por outro lado, quando as pessoas já começam a adoecer, essa possibilidade do atendimento remoto/online, ela pode fazer muita diferença. Então, nesse sentido é bastante importante”, diz o professor.

O Brasil tem atualmente mais de 12 milhões de pessoas deprimidas, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Aqui, 5,5% da população sofre com depressão, número acima da média global que é de 4,4%.

“O cérebro é preparado para exagerar no medo, então por mais segura que ela esteja, o cérebro fica interpretando a realidade como uma ameaça e a pessoa pode, realmente, adoecer de ansiedade”, afirma Daniel.

Gênero dentro de casa 

A violência contra a mulher, infelizmente, não é novidade em um dos países do mundo dono dos maiores índices de feminicídio. Levantamento feito pelo G1 mostra quem 2019 o Brasil registrou aumento de 7,3% nos casos em comparação com 2018. Uma mulher morre a cada 7 horas pelo fato de ter nascido…mulher.

O confinamento reflexo do novo coronavírus contribuiu para a violência contra a mulher subir ainda mais. O Hypeness mostrou que os casos aumentaram 50% desde o início da quarentena, segundo dados baseados em boletins de ocorrência.

O psiquiatra e professor Daniel Barros destaca que o isolamento pode potencializar questões de gênero. Isso evidencia estruturas sociais machistas que colocam nas costas da mulher a responsabilidade de dar conta de todas as tarefas da casa.

“O trabalho é de todo mundo. Está todo mundo no mesmo barco, não adianta apontar dizendo que o furo é do outro. Se afundar, vai todo mundo para baixo. Acho que a pressão ela é, no modelo tradicional, enorme para as mulheres, que vão gerenciar a casa com todo mundo”, encerra.

Portanto, se desafie todos os dias a encarar a rotina de outra forma. A gente sabe das dificuldades de manter a sanidade em meio ao caos, mas isso é importante. Procure rir, fazer exercícios físicos, chamadas de vídeos com os amigos podem render boas festas. Se tiver plantas em casa, invista o tempo livre para conversar e acompanhar o desenvolvimento delas.

Um recado aos que estão de home office, não deixem que o trabalho tome conta do seu dia. Crie horários para atender aos anseios da vida profissional. O Hypeness listou algumas dicas de quem entende muito desse negócio de trabalhar em casa e você pode saber de tudo no link. Se cuide, pois vai passar.

 

Fonte: Hypeness

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