Por paradoxal que seja, além do mais pela implacável perseguição aos cristãos do primeiro século, foi de extrema importância a contribuição do Império Romano, embora involuntária, à divulgação e expansão do Evangelho de Jesus Cristo em seus primeiros dias. Nesse contexto, e antes de qualquer análise mais aprofundada, é importante ponderar sobre o mistério que cerca, através dos tempos, a vinda de Jesus em pleno apogeu do Império Romano – e, principalmente, em pleno domínio de Roma sobre Israel. Esse vácuo histórico-espiritual intriga as mentes mais doutas às mais simples até os dias atuais: estudiosos, acadêmicos, teólogos, biblistas, doutores de todas as latitudes e longitudes, como também pessoas comuns, anônimas, movidas apenas por curiosidade ou por arraigados sentimentos cristãos, se indagam: porque Deus enviou seu Filho exatamente no esplendor do poderio político-militar romano?

Uma primeira explicação, logicamente para os que creem, envolve a soberania de Deus. Deus só é deus porque é soberano. E da mesma forma que enviou o Filho naquele tempo, poderia tê-lo enviado, em função de Sua vontade, em qualquer outro período da história humana. Afinal, Ele é o Todo-Poderoso! Entretanto, respeitados a profundidade e o mistério que envolvem as decisões Dele, outros aspectos podem ser considerados em torno do assunto. Vários estudiosos enumeram, em primeiro lugar, o distanciamento – e até um certo respeito – que Roma guardava em relação às questões religiosas dos povos dominados, a ponto de acolher e inserir em sua práxis litúrgica grande variedade de deuses de outras nações. É notória, por exemplo, a absorção de deuses gregos à rotina religiosa romana, coroando, com tal pragmatismo, entre outros fatores, a longevidade da ocupação territorial dos povos helênicos.

A História, em inúmeras ocasiões, registra que Roma se detinha o direito absoluto sobre os impostos e a obediência político-militar-territorial dos países dominados, deixando aos locais a administração de outros temas. Tal postura, com certeza, explica a liberdade que Jesus teve para pregar o Seu Evangelho, como também a desenvoltura posterior que seus apóstolos alcançaram na difusão dos ensinamentos do Mestre nos mais distantes rincões. (A exceção a essa postura romana fica por conta da cúpula judaica, que – após crucificar Jesus – tentou de todas as maneiras impedir o avanço da “nova doutrina”, prendendo, espancando e até matando os discípulos do Nazareno – sabe-se que em vão). Entretanto, não somente essa “liberdade de expressão”, admitida por Roma, explica o sucesso do Evangelho nos primeiros dias. As estradas romanas também contribuíram para os deslocamentos dos primeiros missionários.

Eram estradas bem traçadas, bem cuidadas, vigiadas, que permitiam certa segurança ao viajante e estímulo, portanto, para se aventurar por outros destinos. (Por sinal, a qualidade de tais estradas, muitas trafegáveis até hoje, entre outros fatores, viabilizou a expansão romana, inclusive por permitir o tráfego de equipamentos pesados, à época, de alto poder destrutivo.) Entretanto, uma das mais importantes contribuições da cultura romana à divulgação do Evangelho foi a tradição epistolar. Apesar de serem utilizadas desde o Antigo Testamento, o período romano permitiu, em Israel, o crescimento do hábito da comunicação por cartas – certamente pela sensação de que chegariam ao seu destino. Daí a intensa atividade epistolar do apóstolo Paulo. Do total de 27 livros do Novo Testamento 21 têm o formato de cartas, dos quais 13 de lavra paulina. E com a ajuda de Roma! Ora, ora, quem diria, hem, gregos e troianos?

Públio JoséJornalista – ([email protected])
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