A COLUNA PRESTES E A ENTRADA NO RIO GRANDE DO NORTE –

A chamada Coluna de Revolucionários do Sul, ou popularmente dos Revoltosos, ou ainda, no sertão do país, tidos como “os revortósu”, foi um acontecimento político que, para muitos, transformou-se num divisor da República Velha para a Nova. A origem da questão Tenentista, do início dos anos vinte, do século passado, logo teve um crescendo, açulada pela nítida confrontação entre os civis e militares que atuavam na esfera política. Dois personagens da hostilidade desse tempo, o marechal Hermes da Fonseca e o presidente mineiro Artur Bernardes, do período do “café com leite”. Em 1924 a mobilização militar tomou força. O foco inicial deu-se no Rio Grande Sul, com os tenentes e oficiais rebelados, entre eles, Luiz Carlos Prestes e o cearense Juarez Távora. Levantes em São Paulo, seguiram-se confrontos no Paraná e a reunião com os rebelados gaúchos.

Iniciou-se a marcha a partir de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, estradas empoeiradas pelo trotear prodigioso. Até se chegar a uma coluna de quase mil e quinhentos cavaleiros, voluntários, põe-se em direção ao centro do país, com líderes militares comissionados, liderados pelo general Miguel Costa, e um estado-maior chefiado por Luiz Carlos Prestes, que foi o cabal gestor da imensa cavalaria armada.

À medida que a Coluna Prestes adentrava o interior, após meses de andadura e acampadas, precisavam de centenas de cavalos além de toneladas de alimentos para suster os revoltosos. Os fazendeiros cediam os animais e os bois em abate em troca de recibos provisórios que lhes garantiriam ressarcimento após a vitória da “revolução”. A Coluna passava a ser vista com olhos desconfiados a cada lance de progressão intestina brasileira.

Ao entrar no Nordeste, pelo Ceará, a imagem da Coluna já era uma gigantesca récova de inimigos do governo. Os fazendeiros e líderes políticos passavam a criar dificuldades. Recontros aconteciam, como em Crateús, com mortos entre os revoltosos e atacantes da cidade.  A partir daí a Coluna redobrou os cuidados para não entrar em choque com os jagunços dos coronéis sertanejos, e ainda havia os cangaceiros de Lampião. Mesmo o Juazeiro de Padre Cícero, que uma década antes havia topado uma Guerra, na conhecida Sedição de Juazeiro, então o patriarca detinha um exército de jagunços em armas, organizados pelo deputado Floro Bartolomeu.

A entrada na Paraíba, onde concentravam-se as forças gravitadas no poder, entre eles o célebre coronel José Pereira, fez com que a Coluna seguisse por um viés traçando o sinuoso caminho potiguar. A Coluna seguia penosamente entre serrotes e itinerários enfiados de povoado a povoado. O historiador potiguar Rostand Medeiros pesquisou a entrada da marcha pelos municípios de São Miguel e de Luís Gomes, ressaltando o relato contundente do folclorista e escritor em seu livro Os Revoltosos em São Miguel – 1926. Houve factuais saques a armazéns, e roubo de animais, diante da recusa ou resistência de sitiantes e fazendeiros potiguares. As ações revolucionárias se excediam no avanço que precisavam refazer pela paraíba e Pernambuco. A ideia era chegar a Recife, ter com os militares adesistas dos quartéis sublevados. No Imbé houve saques na casa sede da fazenda, a pilhagem do armazém, cestas de legumes e rapadura, abate do gado bovino e galinhas. Os sertanejos fugiam para os matos e serras. Prestes procurava explicar a natureza das ações, e tentava conciliar com as lideranças da roça.

Por fim a entrada na Paraíba, e novos confrontos aconteceram, como o de Piancó, com a morte do Padre Aristides e algumas dezenas de moradores resistentes à Coluna. Daí atravessaram Pernambuco e seguiram até o sertão baiano, onde irromperam combates com os jagunços dos coronéis da caatinga. Cruzaram os limites da Bahia e voltaram por Goiás até se dissolverem já no território boliviano. Afinal foram 25 mil quilômetros percorridos. Tal movimento célebre redundaria, no campo político, na Revolução de Trinta, com a ascensão de Vargas.

 

Luiz SerraProfessor e escritor
 As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *