Existem situações, atitudes e ocorrências do nosso cotidiano que, para alguns, parecem naturais, mas para outros assumem proporções detestáveis beirando o insuportável. O cronista mineiro Paulo Mendes Campos, 50 anos atrás, publicou um rol de algumas situações execráveis, relação essa na qual eu tomei a liberdade de acrescentar outras circunstâncias, fruto do progresso tecnológico da contemporaneidade.

Trocar pneus de automóvel, alarme de carro disparando de madrugada, congestionamento de trânsito, celular com toque esdrúxulo, embalagem de plástico ou de papelão difícil de abrir, decifrar manual técnico de aparelho eletroeletrônico.

Ligação telefônica errada no meio da noite, britadeira desmontando pavimento de rua, pirralho gripado com nariz escorrendo o produto da infecção, flatulência silente ou tagarela seja ela anônima ou subscrita, giz arranhando quadro-negro (arre!), borrifo de espirro quando esse foge ao controle do espirrador (ah, quanto falta faz o velho lenço de guerra guardado do bolso traseiro da calça!).

Aguardar voo atrasado, preencher declaração de Imposto de Renda, tentar vestir a calça predileta e descobrir que o cós não ataca a cintura, gaiato sem graça tentando fazer graça em plateia de cinema, descobrir falsidade de um amigo e dor de barriga das brabas.

Outras: o riso irônico daquele desafeto preferencial, apertar mão suada, falsos elogios, miserabilidade em quem tem dinheiro sobrando, prego em carro causado por falta de gasolina ou bateria sem carga, procurar vaga em estacionamento lotado, procurar carro em estacionamento lotado, discurso de bêbado e chulé nos pés alheios.

Odor de axilas imune a desodorantes, ser tungado em conta de restaurante, recorrer ao serviço eletrônico de auxílio ao assinante das companhias telefônicas (disque 1 para isto, disque 2 para aquilo, disque 3 para sei lá o quê…)

Calma, ainda não acabei! Viajar de avião em três situações distintas: na cadeira do centro apertado entre dois gordos; na cadeira do corredor ao lado de alguém com incontinência urinária; e, caindo de sono sendo incomodado por chato de carteirinha desejando entabular conversa.

Vigilante de carro que só vigia o seu retorno ao carro; esmoler, vendedor ou malabarista que assina ponto em semáforo; paletó escuro polvilhado de resíduos de caspa; e, choro de moleque malcriado provocando pais tolerantes.

São milhares de coisas detestáveis impregnando o nosso dia a dia. É lógico que cada pessoa dá a sua prioridade para aquilo que mais abomina. As aqui alinhavadas não fogem à regra. Podem ser mais detestáveis para uns do que para outros, mas, que todas são irritantes, ah, quanto a isso não tenho qualquer dúvida.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

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