BALANÇO DE UM DOMINGO DE CARNAVAL – José Delfino

BALANÇO DE UM DOMINGO DE CARNAVAL –  Tenho dificuldade em escrever sobre temas que me agradam um tanto, mas que poderiam ferir a sensibilidade dos outros. Mais exatamente, por conta da maioria nunca por em prática, nem discutir abertamente acerca deles, por razões que não vão ao caso agora discutir. Apetece-me seguir a orientação de […]

MOMICES – José Delfino

MOMICES – Hoje vou deixar para os outros o trabalho de escrever sobre coisas aborrecidas da vida. É que ele se aproxima e o país vai parar mais uma vez. Mais do que já está. Este simples afazer continuado do prazer humano. Ah, o carnaval!! A alegria de um exercício um tanto sedentário, às vezes […]

DE RACIOCÍNIO PERIFÉRICO – José Delfino

DE RACIOCÍNIO PERIFÉRICO –  Pense num cara racional o tal do Sartre. Dizia ele que como um objeto está obrigado a existir segundo as quatro dimensões, também uma intenção, um prazer, uma dor, não poderiam existir exceto como a consciência imediata de nós mesmos. “Óbvio”, poderia você dizer, “eu também penso da mesma forma”. Acontece […]

DA LINGUAGEM OCULTA DO SOM – José Delfino

DA LINGUAGEM OCULTA DO SOM –   É difícil intervir no gosto de cada um com explicações técnicas porque a orelha me parece ser o mais reacionário dos órgãos sinestésicos. Mas é que um som harmônico, rimado, articulado,  propositalmente construído para criar determinados e preconcebidos efeitos nas pessoas tem os seus macetes de construção. Até […]

MARCO POLO EM FIM DE ANO – José Delfino

MARCO POLO EM FIM DE ANO – As viagens só se completam quando podem ser contadas a alguém. Feitos os orgasmos masculinos da terceira idade, quando o bom mesmo é espalhar o feito, pois na maioria das vezes, velho não goza, tem susto, isto sim. Quase já sem jet lag, longe dos shoppings (algo inevitável […]

DE RATOS E HOMENS – José Delfino

DE RATOS E HOMENS – Um leve rangido soou quando o bedel abriu a porta. O quarto em penumbra era amplo e aquecido. Nele três celas justapostas. Colado à parede, ao fundo de uma delas, o vi sentado ao chão. Fisicamente prostrado, os olhos fixos e quase mortos como se alguém mirando, vagamente, o infinito […]

A SANGUE-FRIO

  A SANGUE-FRIO Como o clarão do punhal que no ar se espraia E raia o corpo no quintal da dor onde me curvo Desenham-se as espessas gotas dessa rubra arte Que faz o infinito tempo só fechar suas pálpebras E encerrar bem no turvo do enigma as álgebras Do corpo úmido de suor que […]

DO EU ORAL – José Delfino

DO EU ORAL – Talvez eu seja um cara complicado. O diagnóstico certo não pintou, ainda. Em meio a toda essa confusão, bem no olho do furacão, que dia desses eu soube do detalhe meteorológico que nele não tem vento algum, me chega a impressão que não se deveria ligar nem impor nada a ninguém. […]

FOGUEIRA DA VAIDADE – José Delfino

FOGUEIRA DA VAIDADE – Depois de uma noite dividida entre temor e angústia, palavras que, parece, já nasceram emparelhadas, o barulho ensurdecedor das águas de março caindo nos telhados, que incomoda muito os que moram em Natal acostumados a mudos e diuturnos raios de sol, me acordou antes do despertador. Os pardais longe ainda estavam […]

DE TERNURA E RECONHECIMENTO ANTIGOS – José Delfino

DE TERNURA E RECONHECIMENTO ANTIGOS –   Não sei se já lhe aconteceu. Aquele instante, meio deitado, meio acordado, meio dormindo, a cabeça vazia se entregando ao sono e aos sonhos, que é nessas horas que eles acontecem. Quando o gatilho do pensamento, sem ter nem pra que, dispara um clarão súbito. Feito um caleidoscópio […]

DE PAPO TRÔPEGO – José Delfino

DE PAPO TRÔPEGO – A vida nos dota de certas capacidades que a gente pensa que desconhece. Fantasiar, por exemplo, é a racionalização quase perfeita; uma bela válvula de escape, uma das maneiras de se viver menos burocraticamente. Lugares pra onde ir a gente sempre encontra; bons amigos, também, pois o mundo não é só […]

NO MUNDO DA LITERATURA POLICIAL – José Delfino

NO MUNDO DA LITERATURA POLICIAL – Logo cedo na vida abandonei a literatura em quadrinhos (papai só deixava eu ler “O Sesinho”, presente mensal e gratuito do SESI, lembram dele?). Mas eu me amarrava mesmo era no “Gibi mensal”. Daí, então, começou a enxurrada de revistas: “Dom Chicote”, “O Zorro”,“ O fantasma”, “Tom Mix”, “Gene […]

DE CURTO-CIRCUITOS – José Delfino

DE CURTO-CIRCUITOS –  Pra que correr? A existência é curta. Logo se apoderarão de nós as espondiloses, as espondilites, as espondilolises, as espondilolisteses da vida. Não entenderam? Faz mal, não. É que médico diz certas coisas que o povo não entende, mesmo. Um dia vocês vão sentir na pele, aliás nas costas e nos joelhos, […]

PELAS RUAS DE NATAL – José Delfino

PELAS RUAS DE NATAL – Naquela noite, com todos os mosquitos do mundo soltos lá para as bandas da Ribeira, Pedro Paulo, deitado na calçada da rua Frei Miguelinho, cochilava e acordava o tempo todo. O pesadelo se repetia quando mal fechava os olhos. Um anjo exterminador alado pairava no teto da casa e falava […]

SOLILÓQUIO – José Delfino

SOLILÓQUIO –   Claro, a gente só descobre as coisas com o tempo. Na maioria das vezes, tarde demais. E sabe as conclusões que cheguei a essa altura do campeonato? Que não gosto de praia ou campo. Que sou um urbanita convicto. Que não me pertenço. Que sempre me persegue uma frase de Fellini numa […]

DE BRANCO – José Delfino

DE BRANCO – É fácil pensar. Só pensar. Entretanto, por no papel o pensamento da forma que você vê, nem tanto. Pois é difícil superar o sentimento escondido nele que, às vezes, você até não gostaria de ser revelado de forma tão explícita. Daí a necessidade de escamotear. Daí o uso da linguagem figurada. Da […]

DE POESIA – José Delfino

DE POESIA – 1 – HUM Quando as rimas se abrem Os lábios se entendem  Onde o sal e o açúcar se fundem E um pouco ao salobro se sabem  Escoltando intenção e escolha Ao teu travo de mate e se atrevem Num amargo sabor que lembra folha 2 – DOIS É que eu sempre gosto […]

DE APARIÇÕES – José Delfino

DE APARIÇÕES – Dizem que quando se avista algum ser de outro mundo não se discerne bem o que se está vendo, pelo fato de não se saber nem mesmo se eles realmente existem. De repente, entraria em livre curso uma parte do nosso cérebro onde a ciência ainda não detém conhecimento ou controle. Entretanto, […]

DE BARRA PESADA E ERRO GENÉTICO – José Delfino

DE BARRA PESADA E ERRO GENÉTICO – Entrei no centro cirúrgico e por força do meu ofício sempre atuar no ataque, naquela manhã de terça-feira me vi em posição de defesa e torando um aço. Despi-me, calcei os propés, pus o gorro cirúrgico (e a máscara, desnecessária, por puro reflexo), tranquei a inseparável bruaca no […]

DE POEMAS HERMÉTICOS – José Delfino

De poemas herméticos (que uns acham que são e outros não) Vênus no espelho (Vendo Velázquez) Deitada  no quarto em penumbra Entre lençóis de linho encoberta Enroscada desnudado em ter-te Inalcançável como uma asa Refletida  faz-te e semeada Em chão de pedras batidas Pontos de luz fogaréu ao longe No quadro antigo em claro-escuro O riacho em […]