CAFÉ FILHO, O ESQUECIDO –

O Rio Grande do Norte também colocou na Presidência da República um de seus filhos. Trata-se de João Fernandes Campos Café Filho – mais conhecido por João Café ou Café Filho -, nascido em Extremoz, na Região Metropolitana Natal.

Foi um mandato curto, apenas 1 ano e 76 dias, entre 25 de agosto de 1954 e 8 de novembro de 1955, em decorrência do suicídio de Getúlio Vargas, do qual era o vice-presidente, na Quarta República – república populista iniciada em 1946 e finalizada em 1964 com o Golpe Civil-Militar.

Café Filho foi o primeiro presbítero a assumir a presidência da República. Filiado ao Partido Social Progressista, do qual foi também um dos fundadores, se elegeu deputado federal por duas legislaturas representando o Rio Grande do Norte.

 Na primeira, em 1934, não concluiu o mandato porque, para não ser preso, exilou-se na Argentina entre 1937 e 1938, por críticas feitas ao Golpe de 1937. Eleito novamente em 1945, ao concluir o mandato, foi o escolhido do partido para ser o vice-presidente de Getúlio Vargas, na sua terceira passagem pelo Catete, numa indicação de Ademar de Barros, governador de São Paulo, em troca de apoio ao candidato gaúcho.

Eu saía da adolescência, quando avistei o vice-presidente Café Filho caminhando pelo centro de Natal. Aproximei-me dele e o abordei. Expus-lhe meu projeto de realizar um filme sobre crianças desassistidas intitulado Filhos da Rua. O vice-presidente gostou da ideia e, semanas depois, para minha surpresa, recebi uma passagem aérea para tratar do assunto no Rio de Janeiro.

Esse testemunho é do jornalista Felinto Rodrigues, que ainda hoje nutre verdadeira admiração por Café Filho. Ele complementa seu depoimento, dizendo: Quando residi no Rio de Janeira, na década de 60, era comum encontrar Café Filho numa parada de ônibus, esperando condução para Copacabana, onde morava no Posto 6.    

Ao se afastar da Presidência da República, em novembro de 1955, por questão de saúde, Café Filho ficou desempregado. O então governador Carlos Lacerda o amparou com o cargo de ministro do Tribunal de Contas da Guanabara, onde ele permaneceu até a aposentadoria, em 1969. Café Filho faleceu em fevereiro de 1970, no Rio de Janeiro, aos 71 anos de idade.

Epitácio Pessoa (Paraíba), Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto (Alagoas), José Linhares e Castelo Branco (Ceará), citando apenas alguns ex-presidentes nordestinos do Brasil, ao deixarem os mandatos foram homenageados, nos seus estados, com os nomes em cidades, pontes, rodovias, aeroportos, avenidas, ou com bustos em praças ou edificações públicas, merecidamente.

Ao passo que a Café Filho, coube apenas a homenagem de ter o nome atrelado a uma avenida à beira-mar, em Natal. Porém, poucos conhecem a dita artéria pelo nome do ex-presidente. Batizaram-na de Avenida Praia do Meio. Opiniões diferem quanto à concessão de homenagens a certos ex-presidentes do Brasil, porém, nada lhes tira a honraria de poderem afixar as suas fotografias no mural do Palácio do Planalto.

Felinto Rodrigues encabeça uma campanha para erguer uma estátua de Café Filho, na Praça 7 de Setembro, no centro de Natal, entre as sedes dos três poderes do Estado. Segundo o jornalista, existe destaque na Câmara Municipal de Natal, propositura do vereador Ney Lopes, para a confecção do monumento. Menos ruim.

O 18º presidente do Brasil é, hoje, um esquecido no seu próprio Estado. Haja ingratidão para com o nosso João Café.

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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