BEIRANDO OS 50 – 

Neste 10 de dezembro, Dia do Engenheiro, completaremos exatos 48 anos de formados. Isso mesmo, nós, a 6ª turma da Escola de Engenharia da UFRN, colamos grau em 1969 com o pomposo e malicioso bordão: Fera em 64, Doutor em 69.

Imediatamente, como num filme, projetou-se na minha memória a película de lembranças que transformaram em anos dourados aqueles decorridos desde o pré-vestibular até a formatura.

Éramos 24 engenheirandos repletos de esperança e confiança na profissão que havíamos abraçado. Colegas cujo convício diário, durante cinco anos consecutivos, estreitaram amizades, dividiram dificuldades e compartilharam alegrias e sonhos.

          Meu colega Bem-te-vi

Para não contrariar a tradição universitária, quase a totalidade da turma convivia com apelidos nada lisonjeiros, diga-se de passagem, sem aparentar qualquer constrangimento. Caso alguém se aborrecesse, sabia disfarçava o incômodo, pois triste de quem demonstrasse insatisfação com a alcunha. Perderia a sossego.

Assim, a turma de 69 – hoje, respeitáveis senhores -, consistia num punhado de colegas identificados por cognomes esdrúxulos: Velho, Pata (única mulher), Vietcong, Padre, Bola, Chiqueirinho, Positivo, Gereba, Gordo, Bafo de Onça, Boina Louca, Piloto, Jó, Cabeção, Rodoviário, Mister Postman, Tavinho, Tremendão, Cão e Bem-te-vi.

Às vésperas das Bodas de Ouro – festão em organização para 2019 -, quatro colegas já encetaram a derradeira viagem. A maioria daqueles formandos de 69, na atualidade serelepes setentões, cumprida a trajetória profissional para as quais se propuseram em áreas diversificadas da Engenharia e em outras atividades, agora curtem o lazer merecido.

Dentre todos, o mais próximo a mim, desde priscas eras de estudos num depósito anexo a minha casa, foi Bem-te-vi. Estudávamos ali, eu, ele e mais dois amigos. Todos fumantes, sendo Bem-te-vi o maior dos tabagistas.

Acontece, que o dito ambiente estocava, provisoriamente, dinamites para desmontar obstáculos na construção de estradas, material esse utilizado pela empresa do meu pai. Ao serem alertados acerca do conteúdo dos caixotes empilhados a poucos metros deles, quase desmaiaram de susto, e nunca mais fumaram no recinto.

Aposentado, Bem-te-vi resolveu construir um avião no apertado quintal de sua casa – tudo a ver, né! Piloto brevetado pelo Aeroclube de Natal, vítima de alguns percalços aviatórios, o colega doou-se à tarefa de corpo, alma…E, muito suor.

    Réplica do KR2S em montagem

 

Pois bem, mãos à obra e Bem-te-vi montou o seu monomotor modelo KR2S, criação do aeronauta americano Rand Robin, modificado e recalculado pelo próprio colega. Possuía um motor Wolkswagem aeronautizado de 80HP, com velocidade de cruzeiro de 200km/h e autonomia de voo para 4h. Uma maravilha!

Como tirar o avião do quintal? O construtor esquecera desse detalhe.  Desmontada a engenhoca, Bem-te-vi transportou-a para o hangar do Aeroclube e me deu a honra para acompanhá-lo no voo inaugural.

Ele possui no currículo dois pousos forçados. Um por falta de combustível. Mesmo sabedor da meticulosa responsabilidade do colega nessa área, declinei do convite. Não sei informar se o nosso Bem-te-vi ainda voa.

Velhos tempos, bela turma!

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *