FLAVIO RESENDE.

O TEMPLO AZUL DA TEOTÔNIO DE CARVALHO –

Sábado é dia de caminhada em Ponta Negra. Compromisso sagrado e seguro. Do desembarque do carro até o café de 50 centavos são 30 minutos de prazerosas passadas, hoje mais seguras por ter passado por 4 patrulhas do exército, suscitando uma pergunta interna: não poderia ser rotina a vigilância das forças armadas em todas as cidades?
No meu entender sim, seria correto e justo.

Eu me sentindo, seguro coloco Joe Cocker nas orelhas, sento e começo minha viagem ao passado. Baixo num templo católico que existia no bairro do Tirol dos anos 70 aos 90, no cruzamento das ruas Conselheiro Brito Guerra com Teotônio de Carvalho. A ampla casa branca com listras azuis tinha direção do casal cristão Iaponira/Zé Carvalho, com seus quartos sendo habitados por Dodora, Maninha, Zé Filho, Fernando Sarará, Ana, Tiana e Mingo. Parentes e amigos cariocas sempre chegaram emprestando as férias aqueles chiados maravilhosos de Isabel, Marianne, Werner, Silvério entre outros.

O templo azul servia a diversos propósitos. Ali se produzia bolos, tinha assalto de blocos carnavalescos, reunião dos vigilantes do peso, novelas eram assistidas coletivamente, novenas, rezas e no terraço, turmas papeavam praticamente todos os dias, sendo o cruzamento e consequentemente o terraço, um dos mais movimentados da cidade naquele tempo.

O cruzamento era famoso. Na casa do seu Murilo Pacheco os mais velhos comandados por Dudu Barbudo, Ricardo Morais, Fernandinho Rezende, Gambeu e Newton, contavam piadas picantes e fofocavam da vida alheia com gosto de gás. Na outra esquina os roqueiros embalados por marias juanas tocavam violão e ouviam Santana, Janis Joplin, Yes, Beatles e Black Sabbath sob supervisão deste que vos relata a cena, Mário, Patu e tantos outros porras loucos como nos chamavam.

O terraço dos Medeiros de Carvalho era o point das mulheres que programavam os arrasta pés, lanches e discutiam as virtudes e pontos negativos dos varões que ali baixaram, sob liderança das Jaquelines, Costa e Morais, Lila, Betacele, Ana, Yeyé, Lora, Emília e Ciene entre outras. Aquelas ruas entraram para a memória de muita gente. Muitos namoros, casamentos, histórias e estórias tem ali estuário e fonte principal. Aquele templo azul alberga muitos segredos e aquelas esquinas ficaram tombadas como patrimônio imaterial de muitos de nós.

Uma brisa gostosa sopra do mar. Levanto a vista e penso o quanto sou feliz. Por onde ande, por onde pense, por onde jogue meu olhar, só vejo e revejo amor. Nessa felicidade caminharei. Nessa felicidade viverei e a todos os personagens daquele tempo minhas reverências e energias positivas. Para cada um um flash de luz.

Flávio Rezende – Jornalista e ativista social

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