CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

NOSSOS SILÊNCIOS –

Ultimamente tenho desejado experimentar um silêncio mais duradouro.

Para tal, resolvi fazer um pequeno “laboratório”, aproveitando o deslocamento de casa ao colégio onde meu neto Lucas vem “escrevendo” o caminho do seu conhecimento.

Sempre o fizemos conversando. E esses papos não têm limites; imagine que na última vez antes do “silêncio a que me proponho” esboçamos o seu discurso como futuro orador quando da sua formatura. Ele ouvia atentamente e respondia apenas com um sorriso respeitoso e interrogativo.

Teria eu condições de emudecer por um tempo?!

Com o passar dos anos, venho percebendo que os fatos, as coisas e as pessoas vão se amoldando a um novo plano perceptivo, ao mesmo tempo em que se incrementa o autoconhecimento, tornando a vida mais prática.

É como se não fosse mais preciso colocar palavras à frente de nossos desejos e de realizações imediatas. É como se os pequenos silêncios que praticamos em nossa trajetória se fossem alongando, a ponto de nos colocar em situações de sentinelas emocionais.

Ao mesmo tempo, o silêncio é atrativo e aterrorizante.  Ele é capaz de sugerir a face da paz e do recolhimento, como também a do medo e da solidão.

Alguns chamam isso de “a tal da maturidade silenciosa”.

A escala de que habitualmente nos valemos para mensurar os outros não vai se modificando, mas certamente as medidas serão melhores e menos exigentes que antes, pela variância de nossas expectativas.

Não significa que desejamos e nos importamos menos com o melhor do outro. Não mudamos nossos valores, não perdemos os amores, no entanto, as lentes do nosso silêncio  delineiam melhor a silhueta do bem e do quanto somos imagem e semelhança de Deus.

Ninguém sabe o que tem por trás da alma” foi o que nos disse a poetiza Conceição Barros, no último programa do “Naquela Mesa”, realizado pela AEAP – Associação dos Economiários Aposentados e Pensionistas da CAIXA – RN.

A ideia do silêncio não é afeita à maioria de nós. Ao experimentá-lo, somos chamados a ouvir sons que não se apercebiam em nossos pensamentos e isso pode nos amedrontar, pois as ansiedades mais profundas pedem agora espaços para ocupar, e isso causa medo em nossos corações.

Mas o silêncio é necessário para escutarmos e percebermos as graças que Deus nos manda nas pequenas coisas.

Então, é preciso estar atento para não fazer do silêncio um simples refúgio para se esconder, para guardar acontecimentos e aprisionar sentimentos, pelo fato de não gostar de expor os conflitos internos que nos angustiam e nos maltratam, melhor deixando-os quietinhos no recôncavo da alma.

Cuidado! Isso pode ir destruindo aos poucos a nossa paz e, quando menos esperarmos, esse silêncio passar a ser ensurdecedor.

É preciso aprender, também, na medida certa, a deixar fluir alguns desses silêncios, para que não percamos a capacidade de sermos nós mesmos.

Certamente existem coisas que precisam ficar guardadinhas, só dentro de nós. Mas acumular muitos silêncios, e estar rebuscando-os no convívio diário, pode afetar sentimentos e gerar um indesejado conflito espiritual.

O mundo do silêncio exige respeito. Nele não cabem mentiras. Há a hora certa do silêncio, como há a das palavras. No silêncio estamos perto de Deus, nas palavras O estamos compartilhando.

Não tema o silêncio, tema o barulho sem significado.

E lembre-se, mesmo em silêncio, é preciso cuidar do seu próximo.

Carlos Alberto Josuá CostaEngenheiro e Consultor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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