ADAUTO CARVALHO

O MUNDO INTEIRO SE RENDEU AO FUTEBOL 

Os maiores clubes do mundo se enfrentaram na disputa da Liga mais valorizada entre as congêneres, inclusive a FIFA. Escretes milionários mostravam por que são os melhores do mundo e pelo mundo aplaudidos. Mas, infelizmente, não estou me referindo ao Brasil, mas ao clássico do futebol espanhol e aos escretes do Real Madrid e o Atlético de Madrid que disputaram a Liga dos Campeões da UEFA. O Real Madrid ganhou a taça. E o mundo reverenciou. O Brasil, dito país do futebol, quedou-se à hegemonia do futebol europeu e passou a ser um mero espectador do espetáculo e exportador dos poucos talentos que ainda restam. O excesso de corrupção e a falta de seriedade na condução da Confederação Brasileira de Futebol (CDF) e dos clubes nacionais, quebrados e desvalorizados, são os contornos espúrios de uma crise sem precedentes. O Brasil não se sustenta no ranking da FIFA e amarga uma humilhante disputa por uma vaga para a Copa do Mundo em 2018, com expectativa de desclassificação. Mas a arte imita a vida.

O futebol, como as instituições brasileiras, em especial os poderes da República, está em crise e se torna difícil, por falta de nomes, imaginar uma travessia segura para a superação dos desafios que se apresentam e uma expectativa de um futuro digno. Chegamos à lanterna de uma disputa onde o país é a grande vítima. A falta de  brasilidade dos protagonistas da história atual, mostram que o país está à deriva e candidato ao escárnio internacional. Os homens dos poder, como os jogadores, disputam uma estranha competição onde os interesses coletivos são destituídos de valor social e perece ante a autofagia dos jogadores, um maquiavélico esporte, onde o “fair play” foi desconsiderado em troca dos descasos e casuísmo. O time da República Federativa do Brasil é um time de Várzea, com muitos sonhos demagógicos e uma realidade ultrajante. Nem o real nos aproxima do Real Madrid.

Nos campos da realidade brasileira só os descasos, desmandos, dissimulações são valores em disputa e cada jogador ou plantel tem suas próprias regras e garante um lastimável resultado, a perda de expectativas e perspectivas da sociedade. Somos um time sem técnica, sem técnico e sem escrúpulos. O “placar” da vergonha nacional atinge os píncaros da vergonha nacional e internacional. Somos um mero exemplo para as piadas do mundo. A deslealdade entre os jogadores nos traz a certeza da derrota e o quadros de juízes, e seu papel pendular, mostram que não existem regras, mas parcialidade e impunidade. Não precisamos de prorrogação. Certamente, com os times que disputam o campeonato da vergonha nacional, perderemos no tempo regulamentar. As torcidas organizados, com o vozerio da inconsciência política, completam o agonizante quadro de uma derrota de todos.

Tempos de pânico nacional.

Não sabemos quem é quem na atual República Brasileira. Estamos na faixa de Gaza. De um lado um governo, afastado temporariamente, que promoveu um estado de corrupção endêmica, uma teia que se espalhou nos poderes da República e protagonizou o maior escândalo de corrupção do mundo, em favor de uma autofagia partidária e de um plano de perpetuação no poder, como os vizinhos, e levou o país a falência e, nem com todo o aparelhamento do estado, conseguiu negar sua vocação para uma falsa ditadura, nem um projeto abjeto de poder. Do outro um governo nascido do clamor popular mas que, pela ausência de vocação estadista, a única possibilidade de virarmos o jogo, entra em uma crise de identidade. E, além do pulso vacilante, comete os mesmos erros de sempre e é assombrado, na primeira semana, por escândalos protagonizados por Ministros que, a revelia do clamor social que o alçou a condição de presidente interino, insistiu na nomeação de pessoas que representam o pior do governo anterior. Os poderes executivo, legislativo e judiciário se amam e se estupram num complexa relação assexuada onde o atentado ao pudor é cometido, coletivamente contra o povo, mero apêndice na complexa desordem, talvez coisa pensada, dos podres poderes republicanos.

Não podemos negar que as propostas apresentadas pelo governo interino, caso venha a se tornar efetivo pelo impeachment presidencial, foram bem arquitetadas, objetivas e adequadas, para tirar o país da paralisia em que se encontra, um quadro de profunda crise institucional. Nem o inquestionável valor dos novos figurantes da equipe econômica, com o brilho do futebol espanhol, e donos de uma técnica que poderá levar o país, nos próximos dois anos, a empatar o jogo. Mas derrapa nos apelos populistas que varrem a nação, se contrapondo a qualquer medida saneadora e nos apelos para a criação de novos tributos e a reforma de sistemas complexos, como o político e a previdência, que fatalmente encontrará dificuldade de se tornar norma pelo iminente enfrentamento dos cartolas que mandam e desmandam no pais. E, vergonhosamente, enveredou pelo lado da conspiração política contra o único juiz, do quadro de árbitros da cambaleante República, com coragem para marcar os pênaltis que o derrotado escrete republicano nacional precisa para voltar a ser uma seleção com alguma chance de ser respeitada, senão pelo peso da camisa, mas pela determinação de um árbitro que aplica a regra e faz a diferença no corrupto meio em que o Brasil mantém a mentira de ser o país do futebol.

Uma mentira que não convence, mas conta com a passionalidade de um povo que ainda vive os tempos áureos de Pelé e Garrincha e fecham os olhos para a verdade de que já não somos o país do futebol, mas telespectadores dos jogos das maiores equipes do mundo e seu novo estilo de jogar, bem diferente da nossa velha e ultrapassada seleção canarinha, com complexo de vira lata, que, como o poder estabelecido, não se impõe respeito e amor à pátria mãe tão distraída, sem perceber que é subtraída, no tempo regulamentar e no tapetão, por tenebrosas transações. Se alguém assistiu a disputas de pênalti do jogo decisivo da UEFA, pela precisão e perfeição das penalidades batidas e pelo equilíbrio e determinação dos jogadores, com evidente sentido de equipe, ficou constrangido com o inevitável paralelo com os nossos jogadores. E, como a arte imita a vida, espero que Temer e sua equipe tenham assistido e aprendido que não existirá futuro sem o trabalho coletivo e o mínimo de amor às cores do grande Clube Brasil.

Talvez seja esse o nosso maior problema.

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e poeta.

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