Ano? Década de 50, mês? Não sei talvez fevereiro ou março, apenas recordo que era carnaval. Eu era menino. Papai e mamãe me levavam juntamente com dois irmãos para o corso – desfile de carros, na época na Avenida Rio Branco. Óculos de papel colorido, e um saco de filó para colocar confetes e serpentinas, papai não deixava usar lança perfume. Estávamos devidamente “paramentados” para a folia carnavalesca

As músicas também eram marchinhas e sambas com sentidos críticos.

A água lava tudo. “Você notou que eu estou tão diferente? Você notou que eu estou tão diferente? A água lava lava lava tudo, A água só não lava a língua dessa gente.”

Maria sapatão. “Maria Sapatão Sapatão, Sapatão De dia é Maria De noite é João.”  Hoje o compositor ia direto para o xilindró – sinais do tempo.

Os blocos carnavalescos faziam “assaltos” nas casas residenciais recheados de salgadinhos e bebidas. Recordo-me dos Corsários do Amor, Jardim de Infância, Delicioso na Folia, Karfagestes. Tinha também os blocos dos índios, das tribos das Rocas e do Alecrim, que às vezes para brincar com a criançada faziam que ia pegá-las. As pessoas saiam fantasiadas de “Papangus” que eram foliões mascarados vestidos em trajes estranhos, isto acontece até os dias atuais.

 Havia o desfile oficial dos blocos para premiação. O compositor Claudomiro Batista de Oliveira – Dosinho, fazia sucesso com as músicas – Eu não vou vão me levando, Doido também apanha. Fantasia de capim e outras. Os carnavalescos conhecidos eram: Zé Areia, Severino Galvão, José Seabra e Luis Morais entre outros. Os bailes do carnaval eram no Aero Clube e no América, surgindo depois o ABC e a ASSEN.

Na década de sessenta e setenta o corso muda para a Av. Rio Branco, Rua Ulisses Caldas, Av. Deodoro, e Rua João Pessoa, depois só na Av. Deodoro. Começava no final da tarde e indo próximo a meia noite. O número de blocos carnavalescos aumenta muito. Plebe, Chefões, Karfagestes, Magnatas, Apaches, Saca Rolha, Bacurinhas, Xafurdo, Chamego, Sambalanço entre outros. Os bailes carnavalescos nos clubes, também aumentam e destacam-se: América, ABC, Aero Clube, Atlantico e Camana. Também era bastante conhecida “para os homens” a famosa matinê na boate de Maria Boa.

As marchas continuavam “Quem sabe, conhece bem” “Tai eu fiz tudo para você gostar de mim” esta transformada em marcha de carnaval cantada até hoje.  “Daqui não saio daqui ninguém me tira”. “Eu mato quem roubou minha Cueca para fazer pano de prato” “Olha a cabeleira do Zezé” eram algumas das marchinhas cantadas nesta época.

Logo depois, o carnaval de Natal perdeu força e transferiu-se para a praia de Pirangy e em seguida também para a Praia da Redinha. Hoje está voltando lentamente com alguns “pólos” carnavalescos distribuídos por alguns bairros.

Guga Coelho LealEngenheiro e escritor

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