Adauto Ferreira da Rocha, ou simplesmente Adauto Rocha, nasceu na Paraíba, mas logo cedo veio morar no Rio Grande Norte. Ligado à família Ribeiro Coutinho, Adauto fez amizade com meu avô Jorge Silva e com meu pai Cloro leal. Por ser um bom homem aqui fez uma legião de amigos. Foi casado com Dona Marluce Vasconcelos da Rocha e pai dos amigos José, Helio e Abelírio. Foi dono em sociedade com Luiz Ribeiro Coutinho na Usina Estivas e teve fazendas em vários municípios do Rio Grande do Norte. Mas, foi na região agreste que formou sua base política, onde foi prefeito em Arêz duas vezes, em Goianinha uma vez, deputado estadual por duas legislatura e presidente da Assembléia Legislativa. Lutou muito pela antiga UDN e foi ligado politicamente ao ex-governador Dinarte Mariz. Morreu em Natal aos oitenta e oito anos de idade.

Adauto por ser dono de grandes propriedades rurais, ganhou o título de Coronel a quem se dava aos senhores de terras naquela época. Era um homem pacato, mais enérgico nas suas decisões e gostava também de prosear, daí surgirem algumas historias interessantes sobre a sua pessoa.

Escreveu o jornalista Sebastião Nery em sua coluna na Folha de São Paulo algumas boas sobre o Coronel Adauto que me foram passadas pelo seu filho Helio Rocha, diz Nery.

A campanha eleitoral estava fervendo em Goianinha, O coronel Adauto Rocha, da UDN, jogava tudo naquela eleição, para derrotar o também coronel José Lúcio, do PSD.

De Natal, para ajudar a campanha do PSD, chegou a Goianinha o jovem Fernando Marinho, sobrinho do deputado Djalma Marinho. Fernando foi para o serviço de alto – falante, e começou a atacar Adauto Rocha.

– È um ladrão. Este coronel Adauto Rocha é um ladrão.

Adauto Rocha pegou o revolver, saiu de casa, entrou no serviço de alto-falante, cano na cabeça de Fernando Marinho.

– Meu filho. Estou gostando muito do seu discurso. Só que é o contrário. Você não está dizendo certo. Diga certo, senão você morre. E diga logo.

Fernando Marinho continuou.

– Pois é meus amigos de Goianinha, Adauto rocha é que o bom. Meu tio é que não presta.

Estavam salvas, a honra de Adauto e a cabeça de Fernando

Outra contada por Sebastião.

Pé de Chumbo era tratorista da usina Estivas, do coronel Adauto Rocha, em Arez no Rio Grande do Norte. Adauto Rocha era da UDN, adversário de José Lúcio do PSD. Os dois repartiam as terras e os votos em Arez.

Chegaram às eleições, cada eleitor de Adauto Rocha ganhou um par de sapatos, um corte de mescla azul para fazer a roupa e 50 mil reis.

Um tarde, Pé de Chumbo entrou no escritório da usina Estivas. Adauto Rocha estava lá.

– Tudo bem Pé de Chumbo?

– Tudo bem coronel. Mas ainda está faltando uma coisa.

– Está faltando o que?

– Recebi a mescla, os 50 mil reis, mas falta o sapato.

– Ora, Pé de Chumbo, você nunca calçou sapatos na sua vida!

– É coronel, mas também nunca votei.

Calçou e votou.

Conta seu filho Hélio, que havia dois tratoristas vizinhos, um conhecido por Cospita e o outro Pé de Chumbo. Pois bem, estava Adauto Rocha sentado no alpendre de sua casa quando Pé de Chumbo aproxima-se chorando e lamentando que Cospita havia carregado sua mulher.

– Ou Pé de Chumbo o Cospita deixou a mulher dele em casa?

– Deixou coroné, a pobrezinha ta lá chorando amargurada com esta situação.

– Pois bem vá lá e fique com a mulher dele, que eu estou mandando.

Os tempos passaram um belo dia, Adauto avista Pé de Chumbo e o chama.

– Como é Pé de Chumbo, se deu bem com a outra mulher?

– Ah, Coroné a coisa ta muito boa, Cospita já me procurou para distrocar as muié, ainda me ofereceu de vorta uma vaca parida, mas eu não distroco não.

Certa vez candidato a prefeito de Várzea fez uma parceria com Lindolfo Vital que era candidato a prefeito de Santo Antonio contra José Lúcio. Um ia à cidade do outro ajudar o amigo.

Chegando a uma casa de fazenda da região, Adauto sentou-se e procurou convencer a um compadre a votar em Lindolfo Vital. Conversa longa, a mulher do cidadão que estava na cozinha ouviu, veio até a sala e foi dizendo.

– Nem eu, nem meu marido vamos votar com Lindolfo, e o senhor acabe com esta historia.

Adauto tentou protelar, mas não teve acordo. A mulher conseguiu tirar Adauto do sério que se levantou, sungou as calças, ajeitou o chapéu e disse.

– É compadre, eu vou embora, eu bem que disse ao compadre Lindolfo que ele não precisa de voto de corno para se eleger.

Adauto morreu deixando uma rica e grande herança. Sua Família.

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor

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