A VIDA EM PRETO E BRANCO –

O profícuo e talentoso fotógrafo Chico Canhão quase não fazia (talvez ainda não faça) registros em cores. E garantia, poético e bem humorado: “…a vida, meu amigo, é em preto e branco!…” Uma visão das coisas e do mundo que pode muito bem ser reconhecida no trabalho de Sebastião Salgado, brasileiro universal, que enobrece, com verdade e humanidade, a arte da fotografia.

E foi justamente em preto-e-branco que o Cinema nos legou algumas das maiores obras, concebidas e realizadas por geniais e talentosos profissionais da chamada Sétima Arte, em filmes que, bem antes do advento das cores, passaram para a História como testemunhas de um tempo em que filmar era um trabalho artesanal.

Em preto e branco, antes das produções hollywoodianas, o chamado Expressionismo, na década de 1920, na Alemanha e as produções russas, incentivadas pela Revolução, nos deixaram títulos emblemáticos para os estudiosos do Cinema. O Neo Realismo italiano, com Vittorio De Sica, Mario Monicelli. A Nouvelle Vague francesa, que revelou os talentos de Godard, Trufaut, por exemplo, encabeçaram as listas das exibições nos Cinemas de Arte.

Não quero – nem tenho estofo – para falar da história do cinema. Mas agrada-me lembrar alguns títulos que encantaram plateias, desde o tempo em que, nas telas, a vida passava em deliciosas imagens gravadas em preto, branco e suas gradações. Não existia ainda o encantamento do CinemaScope, apresentado pela primeira vez em O Manto Sagrado, em 1953.

Compor e filmar, por maior exemplo, um Carlitos “colorido” parece inconcebível.  Hynkel, sátira de Hitler em O Grande Ditador, teria a mesma comicidade se filmado diferente? Na maioria das suas criações, Charles Chaplin nos legou personagens e situações de extrema humanidade que dispensam a “realidade” do Tecnicolor. A comédia e a emoção, elementos marcantes de O Garoto, Luzes da Cidade, Tempos Modernos sobrevivem belas e eloquentes ao encanto das enormes e coloridas telas de hoje.

O genial Billy Wilder, mestre da comédia sardônica, da crítica dos costumes americanos, nos legou filmes inesquecíveis. Quanto Mais Quente Melhor, Crepúsculo dos Deuses, são exemplos da sua genialidade expressa em “duas cores”. O drama romântico de Mervyn Leroy, em A Ponte de Waterloo, o conto de Natal de A Felicidade não se Compra, de Frank Capra, filmado em eletrizantes e envolventes sequências, A Malvada, de Mankievicz, A Um Passo da Eternidade, de Fred Zinneman, são alguns exemplos de filmes em que as câmeras captaram maravilhosas atuações e gravaram momentos inesquecíveis do cinema.

O nosso registro tem a intenção de lembrar os que marcaram a nossa vida de frequentadores das salas de cinema.  É por isso que mencionamos títulos do porte da relevância de O Tesouro de Sierra Madre, aventura e tensão máximas com direção de John Huston, o queridíssimo Casablanca, de Michael Curtiz, Gilda e a consagração de Rita Hayworth como sex-simbol americana. Dois westerns em preto e branco fizeram e ainda fazem a delícia dos cinéfilos. Matar ou Morrer, com uma atuação marcante de Gary Cooper, O Homem que Matou o Facínora, lendária película de John Ford. E o que dizer do Psicose, de Hitchcok?

Filmes que ficaram na memória, existem muitos. E todos podem elaborar as suas listas. Quem puder, não esqueça de incluir, por carinhoso dever, todos os filmes de Tarzan com Johnny Weissmuller, hilariantes comédias com O Gordo e o Magro, chanchadas com Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade, José Lewgoy, Cil Farney, Renato Restier, Eliana, Fada Santoro, Renata Fronzi e muito mais estrelas brasileiras que, com bom humor, galhardia, paixão e talento, desfilaram nas telas e nos fizeram felizes mostrando a vida em preto e branco.

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais

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