A IMPRENSA MARROM –

O termo significa imprensa sensacionalista, aquela que transforma fatos simples e sem importância em notícias chocantes, sempre em torno do trinômio escândalo, sexo e sangue, com o único objetivo de faturar em cima da desgraça alheia. A sua origem no Brasil, segundo o jornalista Alberto Dines, ocorreu de forma interessante. Em 1960 um cineasta suicidou-se por estar sendo chantageado por uma revista sensacionalista, com fotos de carnaval. A manchete do “Diário de Notícias” seria CINEASTA SUICIDA-SE POR CAUSA DA IMPRENSA AMARELA. O termo era uma analogia com o yellow press utilizado na língua inglesa. O chefe de reportagem do jornal era o norte-rio-grandense, de Marcelino Vieira, Calazans Fernandes, criador do tele-curso da rede globo. Calazans não concorda com o termo, alegando que “na minha terra amarelo é cor bonita”. A cinco minutos do fechamento da edição, Dines, democraticamente, pergunta a Calazans o que fazer e a resposta foi imediata: “Muda de cor. Põe marrom nesse título. Marrom é cor de merda!”

O yellow press do inglês vem do personagem de histórias em quadrinhos Yellow Kid, por usar uma camiseta amarela, que circulou nos jornais de Pulitzer e Hearst. Os críticos a esse jornalismo tornaram a expressão pejorativa.

Além da versão de Dines, há outra atribuída à língua francesa, na qual marron significa ilegal, clandestino. Os cimarrons eram os escravos em fuga ou situação ilegal, nome também dado aos cannards, que, além do significado de pato, quer dizer conto absurdo, fato inverídico, cambalacho, folhetim ilustrado.

Para o jornalista Danilo Angrimani, o termo vem do francês “imprimeur marron” (impressor ilegal) e “Trata-se de sensacionalizar aquilo que não é sensacional… É a produção do noticiário que extrapola o real, que superdimensiona o fato… A `notícia´ é elaborada como mero exercício ficcional… A manchete deve provocar comoção, chocar, despertar a carga pulsional.” É uma catarse das frustrações cotidianas. Daí a “exploração das perversões e fantasias”. Pêndulo “transgressão / punição”.

O autor chega ao fait divers: “pequenos escândalos, acidentes de carros, crimes terríveis, suicídios de amor, operários caindo do 5° andar, roubo a mão armada… fenômenos da natureza, como bezerros de duas cabeças, sapos de 4.000 anos, crianças de 3 olhos” Dicionário “Larrouse”.

Na visão de Rosa Nívea Pedroso: “Produção discursiva sempre trágica, erótica, violenta, ridícula, insólita, grotesca ou fantástica… Escamoteamento da questão popular, apesar do pretenso engajamento com o universo social marginal.”

Na descrição de Ciro Marcondes Filho: “a imprensa sensacionalista jamais informa, muito menos forma o público… As manchetes não oferecem ‘a verdade’ vende-se aquilo que a informação interna não irá desenvolver melhor do que a manchete. Esta está          carregada de apelos às carências psíquicas das pessoas e explora-as de forma sádica, caluniosa e ridicularizadora.”

Na Europa, desde o século XVI, havia uma imprensa especializada em “histórias sensacionais que agradavam a todos”. Eram folhetos chamados “occasionnels” na França. A maioria se apresentava com páginas de frente única. Como imprensa periódica, o sensacionalismo nasce, porém, só no século XIX. São os “canards”.

Mais: as histórias apresentadas não têm compromisso com a verdade. São só aparências. Marcondes Filho: “Valorização da emoção em detrimento da informação; exploração do extraordinário e do vulgar, de forma espetacular e desproporcional… valorização de conteúdos ou temáticas isoladas, com pouca possibilidade de desdobramento nas edições seguintes e sem contextualização político-econômico-social-cultural…”

Esses “canards” traziam várias histórias criminais: “crianças martirizadas ou violadas, parricídio, cadáveres cortados em pedaços, queimados, enterrados vivos” (ANGRIMANI). No entanto, sua explosão enquanto fenômeno de massas ocorre nos EUA.

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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