A CASA DOS MEUS SONHOS –

“A casa dos meus sonhos/É feita de ilusão/E vive sempre cheia de amor/Amor e solidão”. Amor e solidão, a casa dos meus sonhos. Fiz uma viagem ao tempo, fui ver a velha casa. Noite, silêncio, sem o barulho trepidante dos veículos. Parei em frente, olhei com tristeza, ela não está mais lá. Em seu lugar um belo prédio comercial.

A rua está diferente, não transmite mais aquela paz, aquele ar bucólico de antigamente. Lá não tem mais vacarias onde pegávamos o “leite cru”, tomávamos o leite com Toddy ou Vic Maltema. Não tem mais os jumentos levando areia para as construções, lá não se ouve mais o cantar dos galos pela madrugada, não se ouve mais os latidos dos cachorros dentro das noites vazias, não tem mais os grandes terrenos baldios que serviam de pasto para esses animais ou campo para as nossas “peladas”, lá não existe mais vaga – lumes ou pirilampos que iluminavam a nossa infância, não existem mais os vendedores de verduras, de pão, cuscuz e tapioca, lá não existem mais as lagoas formadas por águas das chuvas, que brincávamos com nossos pequeninos botes não se ouve mais o coachar dos sapos, não se ouve mais o badalar dos sinos das igrejas mais próximas anunciando as missas dominicais.  Desapareceram cadeiras nas calçadas com as famílias conversando, as moças de minissaia, namorando nos portões, a meninada brincando de tica, pega bandeira, esconde-esconde. O apito dos guardas noturnos ou a gaita do amolador de facas, as reuniões noturnas embaixo dos postes. Lá existe a saudades, a lembrança de um passado feliz.

A casa dos meus sonhos ficava ali, na Rua Mossoró, no quarteirão entre as avenidas Prudente de Morais e Campos Sales, havia um quintal gramado, nele uma bela goiabeira cuidada com muito carinho por Babá, uma velhinha que trabalhou com minha avó e veio morar com minha mãe. Esta goiabeira fazia a meninada da rua pular o muro e tirar escondido alguns frutos, pois só ela, Babá podia tirar. Meninos de rua…, era uma bela turma. Silvio e Claudio Procópio, Fernando e Paulinho Barbosa, Paulinho Sobral, Ricardo e Roberto Bezerra, José Gotardo e Paulinho Emerenciano, Valério Marinho, Emerson Almeida (Xuxa), Iderval Junior. Manoel, João e Eduardo Barbosa, Ivanaldo Maia, Paulinho Furtado, Sérgio e Andre Lima (na outra esquina) essa era a meninada que morou naquele quarteirão, que viveu aquela casa.   Tinha um belo jardim, cuidado pela minha mãe, que todos os dias, acordava cedinho, para regar suas plantas e dedicava um carinho especial por todas elas. Colocava grandes jarros que ornamentavam os vários terraços da casa. Tinha três varandas, a principal era para receber visitas, da lateral servia mais para estudos e brincadeiras, entre essas, os jogos de botões onde eu era imbatível, eram belas varandas. No quintal gramado, ao fundo ficava o laboratório de manipulação de meu pai, ele fabricava remédios, alguns deles para dar aquelas pessoas que não podiam comprar medicamentos. No centro uma tabela de basquete, onde fazíamos dupla para jogar “vinte e um”, jogávamos bola de gude e bandeirinha ou pega bandeira.

Senti saudades dos moradores daquela rua e lembrei-me de alguns e seus nomes. Logo no inicio moravam Seu Madruga e Aristófanes Fernandes, mais adiante Seu Monteiro, João Ferreira, Seu Rochinha, Aderbal de França, Dante de Melo Lima. No quarteirão da minha casa, Djalma Marinho, Eider Furtado, Aderson Eloy, José Barbosa, Olimpio Procópio, Dr.Paulo Sobral, Antonio Justino, Iderval Medeiros, José Emerenciano, Jose faria, Seu Maia, João Rodrigues, Tenente Clotário, José Procópio, mais adiante, Paulo Brandão. Vivos hoje apenas dois, que eram bem mais jovens.

A casa dos meus sonhos tinha amor dado pelos meus pais, à alegria dos meus irmãos, e neles em particular a lembrança de Niris minha irmã falecida. Tinha a amizade de alguns primos que por lá moraram um pouco, entre eles Décio, Delza, Maria José Leal, Fátima e Mário Guimarães.

O tempo passou ligeiro, a paisagem mudou completamente, a minha infância envelheceu, mas em mim ficou plantada aquelas imagens, que dentro das tristezas da vida fica uma ilha de afago, de carinho de felicidade.

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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