A CARTA DE JESUALDO –

Outro dia, resolvi sair de Maceió. Ao retornar do repouso merecido, o porteiro do edifício me entregou uma carta, imagine de quem? – Jesualdo. A missiva dizia o seguinte:

“Colega, tentei lhe ligar, mas o seu celular sempre esteve fora do ar. Resolvi lhe escrever para contar o que aconteceu comigo recentemente. De uma hora para outra senti forte tontura e vontade de vomitar. Parecia sofrer de uma ressaca interminável.

Com a ajuda de Anita, minha esposa, fui ao hospital. Lá chegando após passar pela triagem me colocaram uma pulseirinha vermelha e devido a minha idade, acharam que podia estar enfartando. O ambiente parecia girar mais que roda gigante. Nesse meio tempo, uma aprendiz de enfermeira, tentava colocar um cateter em minha veia, para dali coletar sangue e aplicar medicamentos.

Depois de muito me picotar, em vão, lembro que ela olhou para mim e falou: – acho que o senhor não tem sangue, eu somente respondi: – pode ser. Finalmente uma outra profissional mais esclarecida conseguiu instalar a agulha. Exames realizados, verificou-se que o meu mal era labirintite, estando o coração cem por cento.

O resto do dia passou, a noite chegou, eu já estava totalmente recuperado quando o médico plantonista liberou o meu retorno para casa. E ao sair falou: – Jesualdo, daqui a pouquinho uma técnica virá retirar todos esses tubos de seu braço e pode sair.

As horas passaram, nada de aparecer alguém. Finalmente por volta da meia noite, uma jovem me visitou e disse: – o senhor está de alta, volto já para lhe liberar.

Eu me sentia muito agoniado com a demora. Cansado, louco para deixar o hospital. Tempo depois, sem ninguém me atender, por conta própria levantei, peguei o suporte de ferro no qual estava pendurado o soro já vazio ainda conectado em meu braço e caminhei para a saída.

Passei por três portarias, quando finalmente, fui abordado por uma profissional que perguntou: – vai para onde? Respondi: – indo embora. Recebi alta desde as onze da noite são duas da manhã e ninguém foi retirar essa parafernália. Estou levando tudo comigo e amanhã eu devolvo.

Foi um corre-corre dos diabos. No instante apareceram duas enfermeiras para recolher os tubos e finalmente pude deixar o local.

O pior de tudo é que já em casa, notei que durante a confusão, tinham esquecido de retirar o coletor periférico que estava enfiado em minha veia e tive que retornar ao hospital, para extraí-lo.”

Dia seguinte o amigo ligou para contar mais detalhes e falou: durante a estadia, me submeti à uma ressonância magnética. Após o exame, a porta estava entreaberta e ouvi os médicos conversando: “Olhe, que coisa negra! Deveria ser assim? Que horror! Mais manchas!”. Meu mundo caiu. Logo depois os doutores se aproximaram com a papelada nas mãos e me contaram que tudo estava bem. Pediram desculpas pela demora e disseram que a impressora estava quebrada, soltando tinta preta e manchando os papeis do laudo.

Eu pensei: como acontecem fatos estranhos com o Jesualdo.

– em determinado momento surgiu uma mocinha para cuidar de bolhinhas que apareceram redor do local onde a veia estava puncionada. A conversa acabou caindo na escolha da profissão. Eu perguntei: “E por que você trabalha aqui? É um trabalho desgastante”. E ela respondeu: “Quando pequena, eu adorava estourar plástico bolha, e foi então que tudo começou e hoje adoro o setor de dermatologia, pois lembro da minha infância.

No outro dia fui fazer uma fluoroscopia em uma clínica particular. Após o exame, sentei para esperar o resultado.

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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